LIVRO DE MELQUISEDEQUE
primeira parte
A História de um Vaso
Capitulo I
Estava descansando sob a sombra do Carvalho de Mambré junto à minha tenda,
quando vi chegar apressadamente um dos servos de meu sobrinho Ló. Quase sem
fôlego, ele passou a relatar-me sobre a tragédia: Houvera no dia anterior uma batalha
entre as cidades da planície, envolvendo quatro reis contra cinco. Como resultado,
Sodoma fora derrotada e muitos de seus habitantes levados cativos, entre eles o meu
sobrinho Ló. A notícia deixou-me muito aflito, pois ao mesmo tempo em que sentia
que precisaria sair em seu socorro, via-me fragilizado, sem nenhuma condição.
Sempre fui um homem pacifico e detesto aqueles que derramam sangue. Tenho
muitos servos, mas poucos sabem manejar espadas e lanças, pois desde à infância são
treinados como pastores. Em lugar de espadas e lanças, eles manejam bordões com os
quais conduzem os rebanhos; Em lugar de escudos, eles carregam vasos em suas
cinturas, sempre cheios de água fresca, para matarem sua sede e refrigerarem as
ovelhas aflitas; Em lugar de vinho para se embebedarem, carregam presos em seus
cintos pequenas botijas com o azeite das oliveiras, com os quais untam as feridas do
rebanho; Em lugar de ressonantes trombetas, eles sopram pequenos chifres, com os
quais convocam o rebanho para o curral
Imaginando como seria um combate entre os meus servos e os exércitos daqueles
cinco reis vitoriosos, comecei a rir. Enquanto gargalhava, a voz dAquele que sempre
me guia, soou aos meus ouvidos, dizendo:
- Abraão, Abraão! Não menospreze os instrumentos dos pastores, pois santificados
pelo fogo do sacrifício, haverão de conquistar o grande livramento.
O Eterno passou a dar-me ordens, fazendo-me avançar pela fé, sem saber como tal
livramento haveria de realizar-se.
O primeiro passo foi a convocação de todos os pastores que, deixando seus rebanhos,
dirigiram-se ao Carvalho de Mambré, trazendo seus instrumentos pastoris. Eram ao
todo 600 pastores.
Ordenei que esvaziassem os jarros, colocando neles o azeite da botija.
Depois de cumprirem esta ordem, pedi que tomassem cada um a lã de uma ovelha,
misturando-a com o azeito dos jarros.
Depois destas coisas, Yahwéh mandou-me tomar um grande vaso de barro, enchendo-
o até a metade com o azeite das oliveiras
Ao concluir esta tarefa, o Senhor mandou-me fazer um longo pavio de lã, enfiando a
metade dentro do azeite e deixando a outra parte presa acima do vaso.
Depois destas coisas, Yahwéh ordenou-me acender o pavio, com o fogo do altar. Ao
aproximar-me do fogo sagrado que ainda ardia sobre o sacrifício da manhã, uma
pequena fagulha saltou para o pavio, e pouco a pouco foi-se alimentando do azeite,
até tornar-se numa labareda que podia ser vista de longe.
A História de um Vaso
Capitulo II
Com o vaso nos ombros, comecei uma caminhada rumo às cidades da planície, sendo
acompanhado pelos pastores. Logo começaram a surgir escarnecedores que, ao
verem-me com aquele vaso incandescente em pleno dia, e passaram a dizer que eu
ficara louco. Ao espalhar esta notícia, muitos vieram ao meu encontro, trazendo
conselhos para que eu abandonasse aquele vaso que seria capaz de destruir toda a
minha reputação e dignidade diante de todos eles.
Quando eu lhes falei sobre os exércitos e sobre minha missão juntamente com os
pastores, eles concluíram que de fato eu ficara louco. Tentaram tirar-me o vaso pela
força, mas agarrando-me a ele, impedi que o tirassem de mim.
Envergonhados diante de tudo isto, muitos pastores começaram a se afastar: alguns
retornaram para suas tendas enquanto outros uniram-se àqueles que riam de meu
comportamento estranho.
Sentindo-me sozinho com aquele pesado vaso sobre os ombros, comecei a angustiar-
me. Ansiava encontrar alguém com quem pudesse compartilhar minha experiência,
mas todos lançavam-me olhares de reprovação.
Lembrei-me de Sara, minha amada esposa; Em obediência a Voz de Yahwéh havíamos
trilhado por muitos caminhos, estando Sara sempre ao meu lado, animando-me a
prosseguir mesmo nos momentos mais difíceis.Com certeza Sara me traria consolo e
forças para continuar firme, conduzindo o vaso da salvação.
Enquanto avançava pelo caminho pensando em Sara, a vi no meio da multidão. Ao
dirigir-me a ela, fiquei surpreso e desalentado ao ver em seus olhos o mesmo
menosprezo daqueles que me chamavam de louco por conduzir em pleno dia chama
que se desprendera do altar.
Lembrando-me da ordem de Yahwéh de que teria de libertar meu sobrinho Ló, fui
andando sozinho pelo caminho; Ao colocar-me no lugar daqueles que me achavam
louco, eu dava-lhes razão, pois em condições normais, nenhuma pessoa coerente sai
de casa, sem rumo definido, levando em pleno dia um vaso com uma labareda nas
costas, afirmando estar marchando contra o exércitos de cinco reis, para libertar um
parente. Realmente da a entender que se trata da manifestação de uma grande
loucura. Mesmo assim, a despeito de todas as humilhações e palavras que falavam
contra mim, eu avançava rumo ao vale desconhecido.
Toda aquela zombaria foi finalmente diminuindo, à medida em que eu me distanciava
do Carvalho de Mambré.
Começaram a sobrevir ao meu coração muitas dúvidas quanto ao meu futuro. Ficava
às vezes aflito com o pensamento de toda a minha experiência, desde a convocação
dos pastores até aquele momento, poderia ser, de fato, demonstrações de uma
loucura.
Cheio de dúvidas, comecei a pensar na possibilidade abandonar à beira do caminho o
vaso, retornando para junto do altar. Esses eram os conselhos alguns pastores e
amigos que, condoídos de minha solidão, ainda vinham ao meu encontro,
aconselhando-me a retornar; Ali, diziam, eu poderia conquistar novamente a confiança
dos pastores, voltando a ser, quem sabe, até mesmo um sacerdote honrado como
outrora. Sobre o altar, diziam, havia um fogo muito maior que aquele que eu
carregava nos ombros.
Estava a ponto de retornar, quando Sara veio ao meu encontro, contando-me sobre o
desprezo que muitos pastores lançavam contra mim; Ela estava consternada, pois toda
aquela desonra, recaía também sobre ela, ao ponto de não sentir mais desejo de
permanecer junto daquele altar.
Depois de alertar-me, Sara passou a falar-me de um plano: Poderíamos, quem sabe,
nos mudar para uma cidade distante, onde esqueceríamos todo aquele vexame.
Esquecendo-me da voz que mandara-me seguir rumo à planície, respondi para minha
esposa que eu estaria disposto a acompanhá-la para qualquer lugar, se ela permitisse
que eu levasse o vaso. Ele seria o nosso altar, aquecendo e iluminando nossas noites
com sua chama.
Ao ouvir sobre o vaso, Sara voltou a irar-se, afirmando não entender minha teimosia
em continuar levando sobre os ombros aquele símbolo de vergonha e desprezo. Depois
dizer-me tais palavras, voltou-me as costas, retornando para a tenda.
A História de um Vaso
Capitulo III
Angustiado em não poder realizar o sonho de Sara, prossegui rumo ao futuro incerto,
sendo orientado unicamente pela chama, cujo brilho aumentava à medida em que as
trevas adensavam-se. Comecei então a meditar sobre aquela chama que
acompanhava-me com seu brilho e calor.
Eu estava acostumado a ver o Fogo Sagrado entronizado sobre um grande o altar de
pedras, em meio aos louvores de muitos pastores, dentre os quais eu me destacava
como mestre e sacerdote. Naqueles momentos de adoração, eu me vestia com os
melhores mantos, e fazia questão de realizar o sacrifício, somente quando todos os
meus servos estivessem reunidos ao meu redor, para que ouvissem meus conselhos e
advertências. Na hora do sacrifício, eu erguia para o céu minha espada desembainhada,
e, com palavras amedrontadoras, proclamava a grandeza do Senhor dos Exércitos, o
Deus Todo Poderoso que domina sobre os Céus e a Terra. Vibrando a espada no ar
num movimento ameaçador, eu representava diante de meus pastores, a imagem de
um Deus severo, que está sempre pronto a revidar qualquer afronta. Depois dessa
demonstração de soberania e poder, eu pegava uma ovelha das mãos de um pastor, e
a amarrava sobre o altar. Para que ficasse bem patente a ira divina, eu pisava sobre o
seu pescoço, golpeando-a severamente, até vê-la perecer. Naquele momento eu
descia do altar, e ficava esperando pelo Fogo Sagrado que jamais deixou de
manifestar-se sobre o sacrifício.
Eu aprendera desde a infância a reverenciar o Fogo Sagrado, crendo ser ele uma
revelação visível de Yahwéh, o Grande Deus Invisível. Até então, eu o vira como um
Fogo Único e Indivizível. Agora, ao transportar em humilde jarro a chama que se
desprendera do Altar, meus pensamentos agitavam-se com o surgimento de um novo
conceito sobre o Criador: o conceito de um Deus Sofredor que é capaz de
despreender-se do Grande Yahwéh, representado pelo Fogo Sagrado, para
acompanhar o pecador em sua jornada.
Arrependido, prostrei-me diante do vaso e chorei amargamente. Tinha agora
consciência de que todo o zelo demonstrado junto ao Altar, tinha por finalidade a
exaltação de meu orgulho, e não do amor daquele que me acompanhava pelo caminho.
Subitamente, gravou-se-me na mente a convicção de que aquela pequena chama que
se desprendera do Fogo Sagrado, era uma representação do Messias, que Se
desprenderia do Grande Yahwéh, para ser o Deus Conosco, companheiro em todas as
nossas jornadas. Ao sobrevir-me esta convicção, a chama alegrou-se, tornando-se
mais brilhante e calorosa.
Com o coração transformado, prossegui pelo caminho rumo ao vale, levando nos
ombros o jarro que trouxera-me depois de tanto desprezo, a alegria de uma nova
revelação sobre o caráter do Criador.
Momentos difíceis começaram a surgir em minha caminhada, quando ventos frios
vindos do mar salgado começaram a arremeter-se contra a pequena chama,
procurando apagá-la. Eu a amparava com o meu corpo, andando muitas vezes de lado
e mesmo de costas, mas sempre avançando rumo ao vale.
Ao romper a luz do dia, achei-me a um passo da planície. Comecei a encontrar pelo
caminho muitos rebanhos que eram conduzidos por rudes pastores. À medida em que
avançava entre eles, surgiam tumultos e confusões, pois muitas ovelhas e cabras
assustavam-se com o meu vaso ardente, debandando-se por todas as partes. Isto fez
com que a maioria dos pastores ficassem irritados contra minha presença em seu meio.
Sabendo que não poderia ficar retido naquele vale, prossegui em frente rumo à
Sodoma. Enquanto avançava, começou a acontecer algo interessante: muitas ovelhas,
meigas e submissas, começaram a acompanhar-me. Eram poucas a princípio, mas
pouco a pouco seu número foi aumentando, até que passei a andar com dificuldade,
devido ao grande número de ovelhas que me seguiam. Ao longe eu podia ver os
pastores, enfurecidos, pela perda de suas ovelhas mais bonitas.
Ao chegar à Cidade de Sodoma, a encontrei vazia e devastada. Seguindo os rastos
deixados pelos exércitos e pela multidão de cativos, fui aproximando-me cada vez
mais do alvo de minha missão. Ao chegar à campina de Dã, pude avistar ao longe o
grande acampamento dos soldados, ao pé de um outeiro. Sem pressa, encaminhei-me
para lá, conduzindo o meu novo rebanho.
Do alto do monte, pude observar o acampamento em toda a sua extensão. Havia
milhares de soldados comemorando sua vitória; Enquanto isso, centenas de cativos
jaziam amontoados no meio do arraial, humilhados e sem esperança. Diante desse
quadro, fiquei imaginando como poderia se dar o livramento.
Minha presença despertou a curiosidade de alguns soldados que, ao ver-me com o
vaso fumegante, aproximaram-se e começaram a debochar. Quando perguntaram-me
sobre o motivo de minha presença naquele lugar, eu disse-lhes que viera libertar meu
sobrinho Ló. Minhas palavras tornaram-se motivo de muitos gracejos em todo o
acampamento; Depois disso, passaram a escarnecer de Ló.
Em pouco tempo, toda aquela zombaria transformou-se em gritos de vingança, e
proclamaram que, na manhã seguinte, todos os cativos seriam exterminados,
começando pelo meu sobrinho.
A História de um Vaso
Capitulo IV
Enquanto tentava imaginar o que Yahwéh poderia fazer para alcançar tão miraculoso
livramento, vi surgir ao longe o vulto de pastores que se encaminhavam em minha
direção, vindos de Sodoma. Pensei à princípio que fossem os pastores inimigos que
vinham arrancar-me o rebanho conquistado com amor. Tal receio logo desapareceu,
dando lugar a um sentimento de muita alegria, quando descobri que eram meus
pastores fiéis. Ele foram se aproximando em pequenos grupos de doze, até alcançar o
total de 300 pastores. Ao olhar para eles, pude notar em seus semblantes os sinais de
uma grande luta espiritual que tiveram de enfrentar, para estarem do meu lado.
Contaram-me da experiência de muitos companheiros que, desanimados, haviam
lançado fora o azeite e a lã de seus vasos, retornando para as suas tendas. Falaram-
me de como, naquela noite passada, haviam aprendido a amar a luz de meu vaso, que
para eles tornara-se como uma estrela guia.
Alegrava-me com a presença de meus humildes pastores, quando vieram em nossa
direção Aner, Escol e Manre, acompanhados por 15 homens armados; Eram fiéis
amigos que, conhecendo os perigos que enfrentaríamos naquele vale, vieram em
nosso socorro. Para que não atrapalhassem o plano divino, pedi-lhes que
permanecessem escondidos até o alvorecer, quando receberiam orientações sobre
como participar da missão.
Comecei a orientar os pastores, seguindo as instruções da Voz Divina que soava-me de
dentro da chama: A primeira tarefa dos pastores, seria cuidar do rebanho até o
anoitecer.
Ao retornarem, ordenei que amarrassem os novelos de lã embebidos em azeite, na
ponta de seus bordões, colocando-os dentro dos vasos que, deveriam ser mantidos
suspensos, de boca para baixo.
Passei a incendiá-los com o fogo de minha labareda, até que as trezentas tochas
ficaram ardendo, porém, ocultas, no interior daqueles vasos.
Ordenei à quarenta de meus corajosos pastores que, no momento indicado por um
sinal que seria dado, deveriam avançar silentes para o meio do acampamento,
circundando todos os cativos que jaziam amontoados no meio do arraial. Ao mesmo
tempo, os 260 pastores restantes, deveriam circundar todo o acampamento,
aguardando pelo sinal de quebrarem os vasos com os chifres.
Orientado pela Voz da Chama, indiquei-lhes os sinais: Quando a última tocha se
apagasse no acampamento, deveriam ficar atentos, pois uma pequena lamparina seria
acesa por um dos cativos. Assim que a lamparina começasse a arder, deveriam correr
cada um para o seu lugar, evitando qualquer ruído, para que não fossem notados.
O sinal para quebrarem os vasos com os chifres, erguendo bem alto a tocha, era o
apagar da lamparina.
Depois dessas orientações, os 260 pastores, ocultos pelas sombras da noite, se
espalharam pelo vale, e ficaram esperando pelo momento de se posicionarem ao redor
do acampamento; Enquanto isso, os 40 se posicionaram próximos à uma passagem
mais vulnerável, através da qual haveriam de alcançar os cativos.
Já era alta noite quando a tocha do último soldado apagou-se, sobrevindo completa
escuridão e silêncio sobre o arraial.
Entre os cativos, havia um homem naquela noite, que vivia a maior angústia de sua
vida. Era o meu sobrinho que, depois de tornar-se alvo de tantos abusos e
humilhações, tomara conhecimento do castigo que os aguardava pelo alvorecer.
Naquela noite, Ló tinha seus pensamentos voltados para o seu tio; Lembrava-se com
arrependimento do momento em que me deixara junto ao Carvalho de Mambré,
mudando-se para as campinas de Sodoma. Em seu desespero, sentiu desejo de rever
minha face e pedir-me perdão por ter-se afastado de mim. Justamente naquele
momento, Ló foi atraído pelo brilho de uma tocha que ardia sobre o outeiro. Ao fitar o
brilho, imaginou estar tendo uma visão, pois o mesmo revelava-lhe a face de seu
querido tio.
Querendo mostrar-me o seu rosto, Ló apalpou em meio às trevas, até encontrar uma
pequena lamparina que trouxera em seu alforje. Frustrado, percebeu que não havia
nela nenhum azeite. Concluiu que aquela lâmpada apagada e seca, era um símbolo de
sua vida vazia e sem fé.
Sem desviar os olhos de meu rosto iluminado pela chama do vaso, num desesperado
gesto de fé, Ló apalpou o pavio de sua lamparina, descobrindo haver nele um restinho
de azeite. Curvando-se, passou a ferir as pedras do fogo, até que uma faísca saltou
para o pavio. Sem que soubesse, Ló estava comandando com seus gestos, os passos
para um grande livramento.
Os trezentos pastores ao verem o tênue brilho da lamparina, encaminharam-se
rapidamente para os seus postos, e, ficaram aguardando pelo apagar da pequena
chama.
Desde o momento em que Ló erguera-se com sua diminuta chama, eu fiquei olhando
para os seus olhos que fitavam os meus. Vi que sua face trazia sinais de indizível
angústia e maus tratos. Mesmo assim, pude ler em seus olhos azuis, que a esperança
e a fé ainda não o abandonara.
O foguinho da lamparina de Ló, contudo, não resistiria por muito tempo. Era
necessário que se apagasse, para sinalizar a grande vitória.
Quando a escuridão voltou a cobrir a face de Ló, meus trezentos pastores arremeteram
seus chifres contra os vasos que mantinham ocultas as tochas ardendo. Um grande
ruído, como de cavalaria em combate ecoou por todas as partes, enquanto as tochas
eram suspensas. Os trezentos chifres usados até então para conduzir o rebanho,
soavam agora como trombetas de conquistadores.
Todo o acampamento despertou-se num único salto, e, sem saber como escapar de
tão terrível investida que partia de fora e de dentro, os soldados começaram a lutar
entre si, enquanto meus pastores permaneciam em seus lugares, fazendo soar os
chifres.
Os cativos, ficaram muito espantados à princípio, mas pouco a pouco foram tomando
consciência do grande livramento que estava se operando em seu favor.
Quando amanheceu, revelou-se aos nossos olhos um cenário de completa destruição;
Todo o arraial estava coberto por milhares de corpos rasgados pelas próprias espadas
e lanças. Somente uns poucos conseguiram fugir daquele acampamento de morte,
mas foram perseguidos pelos meus 18 aliados que estavam armados, sendo
alcançados em Hobá, que fica à esquerda de Damasco. Enquanto isso, os cativos,
agora libertos, recuperavam todas as riquezas que haviam sido saqueadas pelos
inimigos.
A História de um Vaso
Capitulo V
Do cimo do outeiro, enquanto eu vibrava com a alegria dos cativos naquela manhã de
liberdade, ouvi a Voz de Yahwéh falando-me do meio da chama:
- Este livramento que hoje se concretiza ,representa o livramento que hei de operar
nos últimos dias, salvando os remanescentes de teus filhos, do cerco de numerosas
nações que se aliarão a Gog com o propósito de destruí-los. Naquele dia em que
triunfarem sobre o meu povo, a minha indignação será mui grande, e contenderei com
ele por meio da peste e do sangue; chuva inundante, grandes pedras de saraiva, fogo
e enxofre farei cair sobre ele, sobre as suas tropas e sobre os muitos povos que
estiverem com ele. Assim, eu me engrandecerei, vindicarei a minha santidade e me
darei a conhecer aos olhos de muitas nações; e saberão que eu sou o Senhor. E sobre
a casa de Daví e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o Espírito de Graça e de
Súplicas; olharão para Mim a quem traspassaram, pranteá-lo-ão como quem pranteia
por um unigênito e chorarão por ele comos e chora amargamente pelo primogênito.
Naquele dia, haverá uma fonte aberta para a casa de Daví e para os habitantes de
Jerusalém, para remover o pecado e a impureza" (Ezequiel 38; Zacarias 12,13).
Consciente da importância histórica daquele dia de livramento, tomei um calendário e,
fiquei surpreso, pois era Rosh Hashaná, o dia das trombetas. Aquele era o primeiro dia
de um novo ano; Dez dias depois viria o Yom Kipur, o dia da purificação dos pecados;
No dia 15, teria lugar a festa de Sukot, a alegre festa das colheitas do outono.
A chama que para mim tornara-se numa representação do Messias Prometido, apagou-
se no momento em que desci ao encontro dos pastores e dos muitos cativos agora
libertos. Cheios de alegria e de admiração, todos queriam saber como tornara-se
possível tão grande livramento, somente com a utilização daquelas tochas e chifres.
Falei-lhes então da importância daquele fogo que se desprendera do Altar, para
libertá-los naquele vale, identificando-o com o Messias Salvador.
Ao ver que todos carregavam em seus corpos e mantos a sujeira da escravidão,
convidei-os a seguirem-me até ao rio Jordão, onde todos poderiam banhar-se, para
purificação de seus pecados.
Somente três pessoas atenderam ao convite: Ló e suas duas filhas mais novas. Os
demais, retornaram, contaminados para suas casas.
Antes de partir, o rei de Sodoma veio ao meu encontro, prometendo dar-me todas as
riquezas recuperadas naquela manhã. Eu recusei sua oferta, para que jamais alguém
possa dizer que eu me enriqueci com aquele saque.
Permanecemos acampados às margens do rio Jordão, nas proximidades de Jericó por
doze dias. Naqueles dias de refrigério, todos ficaram livres das impurezas, deixando-as
nas águas do Jordão. Este era um preparo especial para a festa de Sukot que
decidimos comemorar em Salém.
Cheios de alegria, iniciamos uma caminhada ascendente rumo à cidade de Salém,
inconscientes da feliz surpresa que nos aguardava. Eu seguia à frente tendo ao meu
lado Ló e suas duas filhas, e atrás vinham os 300 pastores, conduzindo o grande
rebanho.
À medida que avançávamos, comecei a notar que o meu vaso que se esvaziara no
alvorecer, tornara-se muito pesado. Ao baixá-lo, fiquei surpreso ao descobrir dentro
dele muitas pérolas de variados tamanhos e brilhos que se formaram misteriosamente.
Ao avistarmos ao longe a alva cidade, começamos a ouvir sons de uma grande festa.
Acordes harmoniosos repercutiam pelos montes, enquanto avançávamos pelo caminho.
Minha curiosidade em conhecer aquela cidade e o seu jovem rei era imensa, pois da
boca de muitos já ouvira sobre sua grandeza e fama. Tratava-se um reino diferente de
todos os demais, onde os súditos eram treinados não no manejo de arcos e flechas,
mas no domínio de instrumentos musicais. Melquisedeque, o seu jovem rei, regia a
todos com um cetro muito especial : um alaúde, pelo qual pagara um preço elevado.
Enquanto crescia em mim a alegria por estar nos aproximando da Cidade do Grande
Rei, vimos uma multidão vestida de linho fino, puro e resplandecente, saindo ao nosso
encontro. Todos tangiam instrumentos musicais, enquanto cantavam um hino de
vitória. À frente da multidão vinha um jovem tocando um alaúde, trazendo na fronte
uma coroa repleta de pedras preciosas, que brilhavam sob a claridade do sol poente.
Eu tive a certeza de que aquele era o tão aclamado rei de Salém.
Ao nos encontrarmos, ficamos surpresos com a saudação que nos fizeram; Inclinando-
se diante de mim, Melquisedeque afirmou:
- Bendito és tu Abraão, servo do Deus Altíssimo, que possui os Céus e a Terra; e
bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos".
A História de um Vaso
Capitulo VI
Surpresos pela festiva recepção, fomos introduzidos na cidade, onde a beleza das
mansões e jardins nos causou muita admiração. Tudo ali era puro e cheio de paz.
Fomos recebidos no palácio real, edificado sobre o monte Sião. Ali, uma nova surpresa
nos aguardava:
A grande sala do trono, estava toda adornada com representações de nossa vitória
sobre os inimigos. Havia no meio da sala uma mesa muito comprida, coberta por
toalhas de linho fino adornadas com fios de ouro e pedras preciosas. Sobre a mesa
havia 304 coroas, cada uma trazendo a inscrição do nome de um vencedor. Num gesto
que novamente nos surpreendeu, Melquisedeque, tomando as coroas, começou a
colocá-las na cabeça de cada um de nós, começando por Ló e suas filhas. Estávamos
todos admirados pelo fato do rei de Salém conhecer-nos individualmente, e por ter
preparado aquelas coroas muito antes de sermos vencedores.
Eu observava a alegria de meus companheiros coroados, quando, tomando uma coroa
semelhante à sua, o rei de Salém dirigiu-se a mim com um sorriso. Ao levantá-la sobre
minha cabeça, notei algo que até então não havia percebido: Suas mãos traziam
cicatrizes de profundos ferimentos. Vencido por um sentimento de gratidão, prostrei-
me aos seus pés e, comovido, beijei suas bondosas mãos, banhando-as com minhas
lágrimas.
Ao levantar-me, perguntei-lhe o significado daquelas cicatrizes. Com um meigo sorriso,
ele prometeu que iria contar-me toda a história daquele próspero reino, e do quanto
lhe custou a sua paz.
Depois de coroar-nos, Melquisedeque nos fez assentar ao redor da grande mesa, e
passou a servir-nos pão e vinho; A partir daquele momento, passamos a honrá-lo
como Sacerdote do Deus Altíssimo.
Num gesto de gratidão, tomei o vaso repleto de pérolas, e o coloquei aos pés do rei.
Tomando-o nos braços, ele passou a acariciá-lo, sem atentar para o brilho das pérolas.
Expressando-me a gratidão por aquela oferta, disse-me que aceitaria o vaso e, das
pérolas, somente aceitaria o dízimo.
Imediatamente passei a contar as jóias, separando as mais belas para o rei. Haviam
um total de 1.440 pérolas, das quais lhe entreguei 144. Ele as guardou
cuidadosamente em uma caixinha feita de ouro puro, em cuja tampa havia lindos
adornos marchetados de pequenas pedras preciosas.
Depois de receber o dízimo que simbolizava o grande livramento operado por Yahwéh
na planície, Melquisedeque chamou para junto de si um de seus súditos que era
mestre em adornos e pinturas, ordenando-lhe a honrar o vaso com uma linda gravura
que retratasse o momento em que eu o ofertei.
Enquanto o jarro era pintado, Melquisedeque passou a contar-me a história de seu
reino, desde sua fundação até aquele momento em que estávamos comemorando a
grande vitória sobre os inimigos.
Ao devolver-me o vaso, agora honrado pela mais bela gravura e inscrições que
exaltavam a justiça, a humildade e o amor, o rei de Salém ordenou-me a levar comigo
o vaso com aquelas pérolas. Durante seis anos eu e meus pastores deveríamos contar
para todos a história daquele vaso que fora vitorioso por causa da chama do altar. A
todos aqueles que, com arrependimento, aceitassem a salvação representada por sua
história, deveríamos oferecer uma pérola. Ao fim dos seis anos, as pérolas acabariam;
Já não haveria oportunidade de salvação. Sobreviria então o sétimo ano, no qual
haveria um tempo de grande angústia e destruição, quando somente haveria proteção
para aqueles que possuíssem as pérolas. Por essa ocasião, as cidades da planície
seriam totalmente destruídas pelo fogo do juízo, e os demais povos impenitentes,
seriam dizimados por grandes pragas.
A História de um Vaso
Capitulo VII
Sobre o triunfo que acabávamos de obter sobre numerosos exércitos, Melquisedeque,
depois de repetir-me as palavras ditas pelo Messias, deixou um sinal que seria
importante para aqueles que vivessem por ocasião do grande livramento de Israel.
Afirmou que, multiplicando as 144 pérolas do dízimo pelo número de colunas de seu
palácio, encontraria o ano que traria em sua consumação o grande livramento de
Israel. Movido pela curiosidade, comecei imediatamente a contar as colunas; Eram 40
colunas de mármore, adornadas com pedras preciosas.
Ao retornar ao rei com o resultado dos cálculos, ele passou a fazer predições sobre os
grandes acontecimentos que teriam lugar ao fim daquele ano:
- Ao chegar a plenitude dos tempos, todos os esforços humanos em busca da paz se
frustrarão. Naquele tempo, numerosos nações se aliarão contra o reino de Salém;
Haverá uma batalha como nunca houve, e toda a terra será castigada pelo fogo;
Depois de esgotarem todos os recursos em sua defesa, Israel verá, com desespero,
incontáveis inimigos marchando contra eles, com o propósito de eliminá-los. Como Ló
em sua noite de angustia, eles verão morrer sua esperança, quando, em Rosh
Hashanah, ouvir-se-á em meio às ruínas de Salém, os acordes harmoniosos de um
alaúde, tocado por um beduíno da tribo de Taamireh; Sua música fará renascer a fé e
a esperança em um mundo melhor, onde nação não se levantará contra nação; onde
as lágrimas, a dor e a morte não mais existirão.
Depois de consolar os aflitos com os acordes de seu alaúde, o beduíno tomará o vaso
com os pergaminhos da Tumba de Davi, e o levará sobre os ombros. Naquele dia,
estarão os seus pés sobre o Monte das Oliveiras, e, ao clamar pelo livramento de Israel,
haverá um forte terremoto que rachará o monte pela metade, surgindo do oriente para
o ocidente um enorme vale. Naquele dia, toda a terra de Israel será fortemente
sacudida, sobrevindo total destruição para todos os exércitos inimigos; Haverá,
contudo, salvação para todos aqueles que, com arrependimento, refugiarem-se sob as
asas do Eterno, lançando para longe de si os instrumentos de violência.
Toda a humanidade testemunhará, com espanto, as cenas de livramento dos filhos de
Israel. Naquele dia, muitos povos e poderosas nações se posicionarão ao lado de
Yahwéh dos Exércitos; Multidões se aproximarão dos judeus da diáspora, dizendo: Nós
iremos convosco, porque sabemos que o Eterno está do vosso lado.
O Yom Kipur que seguirá ao livramento, será um dia de purificação das impurezas de
todos aqueles que aceitarem a salvação; Naquele dia acabará a cegueira dos filhos de
Jacó, e olharão para Aquele a quem traspassaram, e chorarão amargamente por ele
como se chora por um filho unigênito. (Zacarias 12,13).
Na festa de Sukot (colheitas) será derramado o Espírito de Deus sobre toda a carne; E
há de ser que, todo aquele que invocar o nome de Yahwéh, será salvo, recebendo uma
pérola do vaso (Joel 3).
No decorrer dos dias de Sukot, chuvas de bênçãos cairão sobre o imenso vale, fazendo
surgir à vista de todos os povos, em toda a Terra Santa, um paraíso repleto de alegria
e paz.
Naquele dia os eleitos de Deus compreenderão as palavras do Liv
"Ouvi-me, vós, que estais à procura da justiça, vós que buscais a Yahwéh. Olhai para a
rocha da qual fostes cavados, para a caverna da qual fostes tirados. Olhai para Abraão,
vosso pai, e para Sara, aquela que vos deu a luz. Ele estava só quando o chamei, mas
eu o abençoei e o multipliquei. Yahwéh consolou a Sião, consolou todas as suas ruínas;
ele transformará o seu deserto em um Éden e as suas estepes em um jardim. Nela
encontrarão gozo e alegria, cânticos de ações de graças e som de música"(Isaías 51:1-
3).
Naquele dia os remidos olharão para o humilde beduíno que libertou da caverna o vaso
de Abraão, e cantarão com alegria:
"Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que
proclama boas novas e anuncia a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina!
Porque Yahwéh consolou o seu povo, ele redimiu Jerusalém. Yahwéh descobriu o seu
braço santo aos olhos de todas as nações, e todas as extremidades da terra viram a
salvação do nosso Deus" (Isaías 52:7-10).
Durante seis anos, toda a humanidade, iluminada pela maior revelação do amor e da
justiça de Yahwéh, terá oportunidade de romper com o império do pecado, unindo-se
aos filhos de Israel em sua marcha de purificação e restauração do reino da luz..
Então acontecerá que, todos os sobreviventes das nações que marcharam contra
Jerusalém, subirão, ano após ano, para prostrar-se diante do rei Yahwéh dos Exércitos,
e para celebrar a festa de Sukot. E acontecerá que aquele das famílias da Terra que
não subir e não vier, haverá contra ele a praga com que Yahwéh ferirá as nações que
não subirem para celebrar a festa de Sukot (Zacarias 14: 16- 18).
Naqueles anos de oportunidade, soará por todas as partes do mundo o último convite
de misericórdia, num apelo para que todos os pecadores se arrependam e se unam
numa eterna aliança com Yahwéh, dizendo:
"Assim diz Yahwéh: Observai o direito e praticai a justiça, porque a minha salvação
está prestes a chegar e a minha justiça, a manifestar-se. Bem-aventurado o homem
que assim procede, o filho do homem que nisto se firma, que guarda o sábado e não o
profana e que guarda sua mão de praticar o mal. Não diga o estrangeiro que se
entregou a Yahwéh: - Naturalmente Yahwéh vai excluir-me do seu povo, nem diga o
eunuco: -Não há dúvida, eu não passo de uma árvore seca". Pois assim diz Yahwéh
aos eunucos que guardam os meus sábados e optam por aquilo que é a minha vontade,
permanecendo fiéis à minha aliança: Hei de dar-lhes, na minha casa e dentro dos
meus muros, um monumento e um nome mais precioso do que teriam com filhos e
filhas; hei de dar-lhes um eterno nome, que não será extirpado. E, quanto aos
estrangeiros que se entregarem a Yahwéh para servi-lo, sim, para amar o nome de
Yahwéh e tornarem-se servos seus, a saber, todos os que se abstêm de profanar o
sábado e que se mantêm fiéis à minha aliança, trá-los-ei ao meu santo monte e os
cobrirei de alegria na minha casa de oração. Os seus holocaustos e os seus sacrifícios
serão bem aceitos no meu altar. Com efeito, a minha casa será chamada casa de
oração para todos os povos" (Isaías 56: 1 - 7).
Nos seis anos de oportunidade, Samael, o grande enganador, num gesto de desespero,
empregará todos os recursos possíveis para impedir a realização de Yahwéh através de
Seu povo. Em oposição à santificação do sábado que é o sinal da aliança entre Yahwéh
e seus escolhidos, numerosas religiões, aliadas a governantes ímpios, imporá outro dia
para o culto, não podendo comprar nem vender todos aqueles que mantiverem-se fiéis
à aliança de Yahwéh (Ver Ezequiel 20:20;Apocalípse 13).Naqueles anos de provas, os
eleitos de Deus sobreviverão mediante o cuidado dos anjos, que os conduzirá para
distante das populosas cidades que serão castigadas pelas sete últimas pragas que
cairão sobre os impenitentes ao fim dos seis anos( Apocalipse 15).
Durante os seis anos da colheita final, o Messias edificará uma Nova e Eterna
Jerusalém, adornando-a com os atos de justiça de Seus escolhidos. (Êxodo 25: 1 - 8)
Isaías 60: 10 -22 ; Zacarias 6: 12 - 15; Apocalipse 3:12) Essa Nova Jerusalém
somente será revelada ao completar-se toda a justiça divina, ao fim do sétimo ano,
período em que os eleitos de Deus terão como desafio viver uma vida sem culpas, pois
qualquer ato de rebeldia naquele tempo, ficaria sem expiação, significando eterna
vergonha para o Criador.
Ao completarem-se os sete anos, ,o Messias aparecerá nas nuvens do céu,
acompanhado por todas as hostes celestes; Ao tocar Sua trombeta naquele grande
Rosh Hashanáh, os fiéis falecidos, ressuscitarão revestidos de glória; os vivos
vitoriosos, serão transformados num abrir e fechar de olhos , recebendo corpos
perfeitos; Juntos, todos os remidos serão arrebatados para a Nova Jerusalém, numa
viagem inesquecível que começará no primeiro dia da festa de Sukot; Depois de sete
dias de feliz ascensão, chegarão à Cidade Santa para comemorarem, diante do trono,
o oitavo dia da festa. Como que a sonhar, os resgatados do Senhor entrarão na Cidade
Santa, encontrando ao seu norte, o jardim do Éden, no meio do qual eleva-se o monte
Sião, o lugar do trono de Yahwéh. Coroados pelo Messias, os remidos entoarão o
cântico da vitória, fazendo vibrar por todo o espaço os acordes de suas harpas,
alaúdes e flautas.
A História de um Vaso
Capitulo VIII
Depois de proferir todas essas predições, Melquisedeque disse-me que toda a
experiência que estávamos vivendo, era prefigurativa. Para que todo o drama se
consumasse, tínhamos ainda diante de nós acontecimentos importantes:
Primeiramente, eu deveria retornar ao Carvalho de Mambré juntamente com os meus
pastores, para proclamar a todos a salvação representada pela história daquele vaso.
Todo aquele que, com arrependimento, aceitasse o Messias revelado, teria seus
pecados perdoados, recebendo uma pérola. Ao fim de seis anos, ao chegar à véspera
de Rosh Hashaná, as pérolas acabariam, não havendo mais oportunidade de salvação.
Por aquele tempo, o fogo do juízo cairia sobre as cidades de Sodoma e Gomorra,
havendo terríveis pragas sobre todos os infiéis.
Ao ouvir tais palavras do rei de Salém, sobreveio-me grande angústia, ao lembrar-me
dos últimos passos de Sara; Eu temia que ela, em sua incredulidade, não aceitasse
uma pérola. Se isto acontecesse, os meus lindos sonhos ruiriam por terra, pois não
conseguiria ser feliz em sua ausência. Lendo nos meus olhos a angústia,
Melquisedeque consolou-me com uma promessa:
- Abraão, daqui a seis anos Yahwéh te visitará em sua tenda, e sua esposa será curada
de sua aridez. Ela se converterá e lhe dará um filho que se chamará Isaque.
Ao findar a festa de Sukot, retornamos às nossas tendas junto ao Carvalho de Mambré.
À medida em que íamos avançando pelo caminho, muitas pessoas nos cercavam,
admirados pela beleza do vaso repleto de pérolas; A todos contávamos a história de
sua chama redentora, e oferecíamos as pérolas a todos que crendo, aceitavam a
salvação.
Quando chegamos ao Carvalho de Mambré, uma multidão de pessoas no esperava;
Muitos tinham ouvido falar do miraculoso livramento operado através daquele vaso
que fora alvo de tanto menosprezo. Agora, todos estavam emudecidos ao vê-lo
glorificado.
Juntamente com os meus pastores, continuamos a proclamar o infinito amor de
Yahwéh revelado pela chama. O número daqueles que procuravam pelas pérolas foi
aumentando, dia após dia, e todos éramos felizes.
Os dias, os meses e anos foram-se passando, e a quantidade de pérolas foram
diminuindo dentro do vaso. Estávamos vivendo agora os últimos meses do sexto ano,
que era o último da oportunidade. À medida em que os dias se passavam, aumentava
em meu coração uma preocupação e uma angústia, pois Sara até então não tomara
interesse em apossar-se de sua pérola, apesar de meus constantes rogos.
Naqueles momentos de aflição em que clamava a Deus pela salvação de Sara, meu
único consolo eram as últimas palavras do rei de Salém, de que ao fim dos seis anos
ela seria transformada.
Vivíamos agora os últimos dias do sexto ano; A consciência de que o tempo estava
esgotando, fazia com que muitas pessoas me procurassem de manhã até à noite, para
apossarem-se das pérolas da salvação.Com o coração ferido por indizível aflição, eu
insistia com Sara, procurando convencê-la de sua necessidade em tomar, o quanto
antes, uma pérola, pois as mesmas estavam ficando a cada dia mais escassas. Sem
atentar para a minha angústia, Sara desdenhava de meus apelos, afirmando que
aquelas pérolas não tinham nenhum significado para ela.
A História de um Vaso
Capitulo IX
Depois de uma noite de vigília em que, desesperadamente, procurei convencer minha
amada a apossar-se se sua pérola, aceitando a salvação representada por aquele vaso,
vi o sol surgir trazendo a luz do último dia - véspera de Rosh Hashaná. Ao olhar para
dentro do vaso naquela manhã, vi que restavam apenas três pérolas. Ao admirar-lhes
o brilho, comecei a imaginar que a mais brilhante seria para o meu filho prometido, a
de brilho intermediário seria a de Sara, e a última seria a minha. Esse pensamento
trouxe-me alívio e esperança; Mas, ao mesmo tempo, comecei a preocupar-me com a
possibilidade de chegar pessoas procurando por elas; Se viessem, eu não poderia
negar-lhes o direito à elas.
Tomado por essa preocupação, permaneci sentado sob o Carvalho de Mambré. Na
viração do dia, sobreveio-me um grande estremecimento quando vi ao longe três
peregrinos que caminhavam rumo à nossa tenda. Comecei a clamar a Deus que eles
mudassem de rumo, mas meus clamores não foram atendidos. Dominado por uma
grande amargura, corri até eles, e, depois de prostrar-me, convidei-os para a sombra.
Tomando uma bacia com água, passei a lavar-lhes os pés, limpando-os da poeira do
caminho. Ao ver os pés feridos e calejados daqueles homens, senti compaixão por eles;
Compreendi que haviam vindo de muito longe, enfrentado perigos e desafios, com o
propósito de pegarem em tempo as pérolas. Vi que eles eram muito mais merecedores
do que eu, Sara e nosso filho prometido.
Ao lavar os pés do terceiro, meu coração que até então estava aflito, encheu-se de paz
e alegria; Imaginava naquele momento, quão terrível seria se aquele terceiro
peregrino, não houvesse se unido aos dois primeiros naquela caminhada; Nesse caso
eu seria obrigado a tomar da última pérola, subindo sem minha amada à Salém. Se eu
tivesse de passar por essa experiência, a pérola que simboliza a alegria da salvação, se
tornaria para mim num símbolo de solidão e tristeza, pois a vida longe do carinho de
Sara, seria para mim o maior castigo, como a própria morte.
Depois de lavar-lhes os pés, comecei a servir-lhes o alimento que foi especialmente
preparado para eles. Enquanto os servia em silêncio, eu ficava esperando pelo
momento em que eles me perguntariam pelas pérolas. Mas sem revelar nenhuma
pressa, eles falavam sobre a longa caminhada que fizeram, sobre as cidades por onde
haviam passado. Eu perguntei-lhes se conheciam Salém; Eles responderam-me
afirmativamente, acrescentando que naqueles seis anos, muitas obras haviam sido
realizadas naquela cidade, em preparação para uma grande festa que estava para
realizar-se dentro de mais um ano, por ocasião de Sukot.
As palavras daquele terceiro peregrino, o mais falante dos três, começaram a trazer-
me, misteriosamente, um sentimento de esperança. Ao olhar para os seus olhos azuis,
vi que ele se parecia com Melquisedeque.
Lembrava-me da última promessa feita pelo rei de Salém, quando o terceiro peregrino
perguntou-me com um sorriso:
- Abraão, onde está Sara tua mulher?!
Atônito, perguntei-lhe:
- Como você sabe o meu nome e o nome de minha esposa?
O peregrino, respondeu-me:
- Não somente sei o nome de vocês, como também sei que, daqui a um ano vocês
terão um filho que será chamado Isaque.
Ao ouvir as palavras do visitante, corri para dentro da tenda afim de chamar minha
esposa, para que ouvisse as palavras daquele peregrino.
Ao vê-la, o peregrino perguntou-lhe:
- Sara, porque você riu de minhas palavras?
Assustada, Sara, respondeu:
- Eu não ri meu senhor!
- Não diga que não riu, pois eu a vi rindo dentro da tenda. Afirmou o peregrino.
Consciente de estar diante de alguém que conhecia o seu íntimo, Sara perguntou-lhe:
- Quem és tu Senhor?!
- Eu Sou a chama que desprendeu-se do Fogo do Altar para estar no vaso de seu
esposo! Eu Sou o Messias, o Yahwéh que sofre humilhações e desprezo por amor ao
Seu povo!.
Tendo feito esta revelação, o peregrino estendeu Suas mãos sobre a cabeça de Sara
para abençoá-la; Somente então vi que elas estavam marcadas por cicatrizes
semelhantes às do rei de Salém.
O peregrino, com muita ternura, começou a falar ao coração de minha amada,
resgatando-a de sua caverna de incredulidade:
- Sara, você é preciosa aos meus olhos! Todo o seu passado de descrença e
infertilidade está perdoado! Tenho para você um futuro glorioso, pois você se tornará
mãe de muitos povos e nações!
Depois de dizer estas palavras, o nobre visitante encaminhou-se para o vaso e,
inclinando-se, tomou dele as três pérolas restantes. Dirigindo-se a Sara, entregou-lhe
duas pérolas, e disse-lhe:
- Uma é para você e a outra é para o teu filho Isaque.
Com a vida transformada pelo amor de Yahwéh, Sara prostrou-se agradecida aos pés
daquele peregrino que a salvara no último momento de oportunidade. Quando a vi
prostrar-se submissa, meu coração por tantos anos aflito, rompeu-se em lágrimas de
alegria e gratidão, e caí aos pés de meu Redentor e Rei.
Depois de consolar-nos com a certeza de nossa eterna salvação, o peregrino entregou-
me a última pérola. Quando apertei-a em minhas mãos senti grande luz de alegria e
paz penetrar-me todo o ser, e passei a louvar ao Eterno pela certeza de que teria para
sempre ao meu lado minha querida Sara e o filho da promessa que, dentro de um ano
nasceria
A História de um Vaso
Capitulo X
Depois destas coisas, Yahwéh despediu-se de Sara e dos pastores que ali se
encontravam, e convidou-me a acompanhá-los até o outeiro que fica defronte do vale.
Ao chegarmos àquele lugar, o Eterno despediu-se de seus dois companheiros,
enviando-os para uma missão especial em Sodoma.
Do cimo do monte contemplávamos os férteis vales e florestas que, como um paraíso,
estendiam-se em ambas as margens do rio Jordão, circundando as prósperas cidades,
dentre as quais destacavam-se Sodoma e Gomorra.
Fora sobre aquela colina que, depois da contenda entre os meus pastores e os
pastores de Ló, dei-lhe a oportunidade de escolher o rumo a seguir, pois não
poderíamos permanecer juntos. Atraído pelas riquezas da campina, ele decidiu mudar-
se para lá.
Ao olhar para o meu companheiro que ficara silente desde o momento em que
avistamos a campina, fiquei surpreso ao vê-lo chorando. Perguntei-lhe o motivo de sua
tristeza, e Ele, soluçando respondeu:
- Este é para mim um dia de muita tristeza, pois pela última vez meus olhos podem
pousar sobre este vale fértil. Choro pelos habitantes dessas cidades que não sabem
que os seus dias acabaram!
A declaração de Yahwéh trouxe-me à lembrança todos aqueles cativos que haviam sido
libertos seis anos antes; Infelizmente, quase todos rejeitaram o banho da purificação,
retornando imundos para suas casas; Unicamente Ló e suas filhas aceitaram a
salvação, tomando posse de suas pérolas. Pensando numa possibilidade de livramento
para aquele povo, perguntei ao Senhor:
- E se por acaso existir naquelas cidades, cinqüenta pessoas justas, mesmo assim elas
serão destruídas?
Yahwéh disse-me que se houvesse cinqüenta justos, toda a planície seria poupada.
- E se hover 45 justos?.
- Se houvesse ali 45 justos, toda aquelas cidades seriam poupadas.
Continuei com minhas indagações até chegar ao número dez. Yahwéh disse-me que se
houvesse 10 justos naquelas cidades, toda a planície seria poupada.
Torturado por uma indizível agonia de espírito, Yahwéh voltou a chorar amargamente,
enquanto com voz embargada, pronunciava um triste lamento:
- Sodoma e Gomorra, quantas vezes quis Eu ajuntar os seus filhos, como a galinha
ajunta os seus pintainhos debaixo das asas, mas você não aceitou minha proteção. Por
que você trocou a luz da minha salvação, pelas trevas deste reino de morte?! Meus
ouvidos estão atentos em busca de, pelo menos uma prece, mas tudo é silêncio!
Minhas mãos estão estendidas, prontas a impedir o fogo do juízo, mas vocês recusam
o meu socorro!
Curvando-me ao lado de meu companheiro sofredor, uni-me a Ele na lamentação.
Naquele momento de dor, tive a certeza de que Melquisedeque também sofria por
todos aqueles que haviam trocaram o amor e a paz de Salém, pelas ilusões daquele
vale de destruição.
Depois de um longo pranto, Yahwéh consolou-me, com a revelação de os seus dois
companheiros, encontravam-se naquele momento em Sodoma, com a missão de
salvar Ló e suas filhas, livrando-os da morte. Suas palavras trouxeram-me grande
alívio, e prostrei-me agradecido aos seus pés.
A História de um Vaso
Capitulo XI
Antes de partir, Yahwéh encarregou-me de uma missão, dizendo:
- Tome um rolo vazio e registre nele a história do vaso e a história de Salém, conforme
ouviste dos lábios de Melquisedeque. Dentro de um ano, você e todos aqueles que
aceitaram a salvação, deverão subir à Salém para a festa de Sukot; Naquele dia,
devolverá ao rei de Salém o vaso, oferecendo dentro dele como presente, o rolo.
Naquela mesma tarde, em obediência às ordens de Yahwéh, comecei a registrar a
história vivida por mim e por meus pastores, desde o momento em que parti rumo ao
vale, levando sobre as costas o vaso com sua labareda.
No dia seguinte, o sol já ia alto, quando, ao mencionar a cidade de Sodoma no
manuscrito, lembrei-me que aquele era o dia de sua destruição.Com o coração
acelerado, corri para lá e fiquei espantado com o cenário que estendeu-se diante de
meus olhos: Em lugar daquele vale fértil, semelhante a um paraíso, havia um deserto
fumegante, sem nenhuma vida; No lugar das cidades de Sodoma e Gomorra, havia
uma profunda cratera, para onde as águas do mar salgado escorriam.
Abalado ante essa visão de destruição, retornei à tenda com o coração entristecido . A
lembrança de tantas pessoas que, por rejeitarem o perdão divino, haviam sido
consumidas pelo fogo, deixava-me profundamente abalado. Nos dias seguintes, não
encontrei forças para escrever; Retornei outras vezes ao outeiro, com a esperança de
que tudo aquilo fosse um pesadelo, mas em lugar do vale fértil eu somente conseguia
enxergar aquele caos.
Demorou vários dias para que eu voltasse a ter ânimo para prosseguir com os escritos
do rolo.
Fim da primeira parte.
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Segunda parte
A História de Salém
Capitulo I
Esta é a história de Salém segundo ouvi dos lábios de Melquisedeque por ocasião da
festa de Sukot, quinze dias depois do livramento de Ló e suas filhas.
Tudo começou com um sonho no coração de um homem chamado Adonias; Ele possuía
de muitas riquezas, mas a nada prezava mais que a justiça e a paz que nascem da
sabedoria e do amor.
Cansado com as injustiças que predominavam por toda a terra de Canaã, Adonias
resolveu edificar um reino que fosse regido por leis de amor e de justiça. O nome da
capital desse reino seria Salém, a Cidade da Paz.
Os súditos de Salém não empunhariam arcos e flechas, mas seriam treinados na arte
musical; Cada habitante de Salém teria sempre ao alcance de suas mãos um
instrumento musical, para expressar por meio dele a paz e a alegria daquele novo
reino. Juntos, formariam uma poderosa orquestra na luta contra a desarmonia que
nasce do orgulho e do egoísmo.
O primeiro passo de Adonias para a concretização de seu plano, foi elaborar as leis do
novo reino, as quais ele as escreveu em um pergaminho. Os súditos de Salém não
poderiam mentir, furtar, odiar, nem matar seus semelhantes. O orgulho e o egoísmo
eram apontados como causa de todo o mal, portanto, não poderiam existir naquele
lugar de paz..
As leis do pergaminho requeriam a prática da humildade, da sinceridade, da amizade,
e, acima de tudo, do amor que é a maior de todas as virtudes.
Depois de registrar no pergaminho as leis que regeriam aquele reino, Adonias passou a
arquitetar Salém. Seria uma cidade a princípio pequena, com habitações para mil e
duzentas pessoas. Como lugar de sua edificação, foi escolhida uma região alta de
Canaã, ao ocidente do Monte das Oliveiras.
Em pouco tempo, a realização de Adonias começou a atrair pessoas de todas as partes
que, de perto e de longe, vinham para conhecerem os palácios e as mansões que
estavam sendo edificados. Admirados ante a beleza daquela cidade tão alva, os
visitantes perguntavam sobre quem seriam os seus moradores. Adonias mostrava-lhes
o pergaminho, dizendo que Salém destinava-se aos limpos de coração - aqueles que
estivessem dispostos a obedecerem suas leis.
A História de Salém
Capitulo II
A edificação da cidade foi finalmente concluída e Salém revelou-se formosa como uma
noiva adornada, à espera de seu esposo.
Assentado em seu trono, Adonias examinava agora os numerosos pretendentes a
súditos que chegavam de todas as partes. Aqueles que, prometendo fidelidade às leis,
eram aprovados, recebiam três dotes do rei: o direito à uma mansão, vestes de linho
fino e um instrumento musical no qual deveriam praticar.
A cidade ficou finalmente repleta de moradores. Cheio de alegria, Adonias convocou a
todos para a festa de inauguração de Salém, no decorrer da qual proclamou um
decreto que determinaria o futuro daquele reino, dizendo:
- A partir deste dia, que é o décimo do sétimo mês, seis anos serão contados, nos
quais todos os moradores serão provados. Somente aqueles que permanecerem leais,
progredindo na prática das leis do pergaminho, serão confirmados como herdeiros
deste reino de paz. Aqueles que forem enlaçados por culpas e transgressões, serão
banidos pelo juízo.
As palavras do rei levou a todos a um profundo exame de coração, e alegraram-se
com a certeza de que alcançariam vitória sobre todo o orgulho e egoísmo, que são as
raízes de todos os males.
Adonias tinha um único filho a quem dera o nome de Melquisedeque. A beleza, ternura
e sabedoria desse filho amado, haviam sido sua inspiração para a edificação fundação
de seu reino.
Melquisedeque tinha doze anos de idade, quando Salém foi inaugurada. Era plano de
Adonias coroá-lo rei sobre os súditos aprovados, ao fim dos seis anos. Este plano, o
manteria em segredo até o momento devido.
O príncipe, com suas virtudes e simpatia, tornou-se logo muito querido de todos em
Salém. Ele tinha sempre nos lábios um sorriso e uma palavra de carinho. Apreciava
estar junto aos súditos em seus lares, recitando-lhes as leis do pergaminho em forma
de lindas canções que vivia a compor. Sua presença trazia ao ambiente uma atmosfera
de felicidade e paz. Esse amado príncipe possuía, de fato, todas as virtudes
necessárias para ser rei de uma Salém vitoriosa.
Adonias edificara uma mansão especial junto ao palácio, com o propósito de ofertá-la
ao súdito cuja vida expressasse mais perfeitamente as leis do pergaminho.
Diariamente ele observava os moradores, procurando entre eles essa pessoa a quem
desejava honrar.
Passeava pelas alamedas de Salém, quando, por entre o trinar de pássaros, Adonias
ouviu uma voz semelhante a de seu filho. Ao voltar-se para ver quem era, encontrou
um belo jovem que cantarolava uma canção. Ao contemplar em sua face o brilho da
sabedoria e da pureza, Adonias alegrou-se por haver encontrado aquele a quem
poderia honrar. Aquele jovem, que era uma cópia fiel do príncipe, chamava-se Samael.
Colocando-lhe um anel no dedo, o rei conduziu-o ao palácio, onde, recebido por
Melquisedeque que ofereceu-lhe muitos presentes, entre os quais o direito de estar
sempre ao seu lado.
Adonias preparou um grande banquete em honra a Samael, para o qual todos foram
convidados. Ao contemplá-lo ao lado do rei, os súditos o aclamaram com alegria,
acreditando ser o próprio príncipe.
Exaltavam com júbilo as virtudes daquele formoso jovem, quando revelou-se
Melquisedeque, posicionando-se com um sorriso à direita de seu pai.
No banquete, Samael foi honrado por todos. Realmente ele era digno de residir na
mansão do monte, pois havia nele um perfeito reflexo das virtudes que coroavam o
amado príncipe.
A História de Salém
Capitulo III
Salém crescia em felicidade e paz.Com alegria, os súditos reuniam-se a cada dia ao
amanhecer para ouvirem, cantarem e tocarem as sublimes composições de
Melquisedeque, que inspiravam atos de bondade e paz.
Entre as amizades nascidas e fortalecidas em virtude da música harmoniosa,
sobressaia aquela que unia o príncipe a Samael. Desde que passara a residir na
mansão do monte, Samael tornara-se seu companheiro constante. Passavam longas
horas juntos, meditando sobre as leis do pergaminho.Com admiração, o súdito
honrado via o filho de Adonias transformar aquelas leis em lindas canções. As doces
melodias nasciam dos seus lábios como o perfume de uma flor.
Consciente da importância da música na preservação da harmonia e paz em Salém, o
príncipe, além do canto, passou a dedicar-se à música instrumental, sendo o seu
instrumento preferido o alaúde. Era por meio desse instrumento que conseguia
expressar com maior perfeição a riqueza de seu íntimo.
Dos seis anos de prova, cinco, finalmente, passaram. Adonias, feliz por ver que até ali
todos os habitantes de Salém haviam permanecido leais aos princípios contidos no
pergaminho, convocou-os para um banquete, no qual faria importantes revelações.
Tendo tomado seus lugares diante do trono, os súditos, com alegria uniram as vozes
entoando os cânticos da paz, sendo regidos por Samael.
Depois de ouvi-los, o rei, emocionado, dirigiu-se a seu filho, abraçando-o em meio aos
aplausos da multidão agradecida. Todos reconheciam que a paz e a alegria em Salém,
eram em grande medida devidas ao amor e dedicação do querido príncipe, que era o
autor daquelas doces canções.
Naquele momento de reconhecimento e gratidão, Adonias revelou os seus planos
mantidos até então em segredo.Com voz pausada, disse-lhes:
- Súditos deste reino de paz, minh’alma está repleta de alegria por contemplar nesse
dia vossas faces mais radiantes que outrora. Vossas vestes continuam alvas e puras,
como quando as recebestes de minhas mãos. A harmonia de vossas vozes e
instrumentos, hoje são maiores.
Tendo dito estas palavras, o rei acrescentou com solenidade:
-Um ano de prova ainda resta, ao fim do qual sereis examinados. Permanecendo fiéis
como até aqui, sereis honrados confirmados como súditos deste reino de paz. Contudo,
se alguém for achado em falta, será banido, ainda que este julgamento nos traga
muita tristeza e sofrimento.
As palavras do rei levaram os súditos a uma profunda reflexão. Todos, examinando-se,
indagavam reverentes: - Estaremos aprovados?!
Certos de que seriam vitoriosos, pois amavam Salém e suas leis, uniram as vozes num
cântico expressivo de fidelidade. Ao terminarem o cântico, Adonias revelou-lhes seu
grande segredo:
- Aqueles que forem aprovados, herdando este reino de paz, receberão como rei o
meu filho , a quem darei o trono glorificado dessa Salém vitoriosa.
A revelação do rei foi aclamada por todos com muito júbilo. Adonias, contudo, ainda
não lhes revelara todo o seu plano, por isso pedindo-lhes silêncio, prosseguiu:
- O meu filho empunhará um cetro especial, no qual selarei todo o direito de domínio
seu cetro , simbolizando toda a harmonia, será um alaúde.
Diante desta revelação que a todos sensibilizou, o príncipe prostrando-se aos pés de
seu pai, chorou motivado por muita alegria. Enquanto isto, todos o aplaudiam com
euforia, ansiando ver o raiar desse dia em que a paz seria vitoriosa.
Adonias, chamando para junto de seu filho a Samael, concluiu dizendo:
- No governo dessa Salém vitoriosa, tenho proposto fazer de Samael o primeiro depois
de Melquisedeque. A ele será confiado o pergaminho das leis, devendo ser o guardião
da honra desse reino triunfante.