O que é Lag Baomer?
O nome e a data
● "Lag" é composta pelas letras hebraicas lamed (ל) e gimel (ג), que
juntas possuem o valor numérico de 33 (entenda melhor em
"Curiosidades").
● "Omer", ou sfirat haomer (contagem do omer), é uma contagem de
49 dias (7 semanas), que começa no 2º dia de Pessach e termina
em Shavuot (festa do recebimento da Torá). Essa foi a primeira
contagem realizada por nosso povo e ocorreu na saída do Egito,
sendo motivada pela forte ansiedade com que esperavam para
receber a Torá.
O que celebramos?
1. Na época após a destruição do 2o Beit Hamikdash (Templo), Rabi Akiva
(entenda melhor em "Rabim importantes") ensinava 24.000 alunos. Por
uma série de razões, discutiam e não viviam em harmonia, não agindo
respeitosamente uns com os outros. Então, uma praga espalhou-se
durante os dias da sfirat haomer e muitos deles morreram. Para
lamentar a perda de tantos sábios, as semanas se tornaram um
período de luto. Porém, no trigésimo terceiro dia do omer (18 de iar, no
calendário judaico), a praga se dissipou. Este dia, portanto, tornou-se
festivo. Durante a sfirat haomer, são proibidas atividades alegres, tais
como casamentos, escutar música, entre outras, exceto em Lag Baomer,
quando voltam a ser permitidas.
2. Bar Kochva, um líder revolucionário apoiado por Rabi Akiva, comandou
um grupo de jovens para libertar Jerusalém das mãos do imperador
romano Adriano. Os romanos, porém, acabaram derrotando o grupo, e
muitos dos alunos de Rabi Akiva, que participaram da revolta,
morreram. Alguns dizem que, por estarem receosos quanto a falar
abertamente sobre a revolta, os sábios do Talmud estariam se
referindo a estas mortes quando citavam a praga.
3. Neste dia, lembramos também de Rabi Shimon Bar Iochai, um dos
discípulos de Rabi Akiva, que depois de sobreviver à revolta de Bar
Kochva, continuou lutando contra os romanos e se escondeu deles em
uma caverna, por treze anos, estudando Torá. Ele só conseguiu
sobreviver devido a um poço de água milagroso e uma alfarrobeira
(entenda melhor em "Curiosidades”). Autor da obra sagrada
denominada Zohar, que nos revela muitos segredos da Torá (Cabala),
este Rabi faleceu em Lag Baomer. Sabendo que sua missão neste
mundo já estava terminada, pediu que o dia de sua morte fosse
celebrado com muita alegria.
2. Símbolos
MEDURÁ - É um costume de Lag Baomer acender
uma fogueira para lembrar de que os discípulos de
Rabi Akiva usavam a luz da fogueira para poder
estudar nas cavernas. E em lembrança ao Rabi
Shimon Bar Iochai por ter iluminado o mundo com
suas explicações sobre a Torá.
CHETZ VA’KESHET - Quando estudavam na floresta, os
alunos do Rabi Akiva levavam arcos e flechas caso
algum soldado romano chegasse e então eles fingiam
estar caçando na floresta.
MEARÁ - Devido ao fato do grande
discípulo de Rabi Akiva, Rabi Shimon Bar
Iochai e seu filho Rabi Elazar terem
ficado estudando a Torá, escondidos dos
romanos, numa meara (caverna) por 13
anos, esta permanece como um símbolo
do chag.
AHAVAT ISRAEL - Conforme mencionado anteriormente,
os alunos de Rabi Akiva não viviam em harmonia, não se
respeitando mutuamente. Para relembrar a peste que
sofreram, e explicar a importância de vivermos em
harmonia, enfatiza-se o valor, tão pregado por Rabi
Akiva, de Ahavat Israel, ou seja, o amor ao próximo.
3. Rabim importantes
RABI AKIVA
Akiva, filho de José, trabalhava para Kalba Savua, um dos homens mais
ricos de Jerusalém, conhecido por sua generosidade. Rachel, sua bela
filha, tomou-se de amores por Akiva, prometendo tornar-se mulher dele
se ele concordasse em dedicar sua vida ao estudo da Torá. Mas, além
de pobre, ele, aos 40 anos, era analfabeto. Certo dia, Akiva percebeu
que as gotas d'água que caíam sobre uma pedra conseguiam
perfurá-la. E lhe ocorreu um pensamento: "Se a água, que é tão mole,
pode furar uma pedra dura, as palavras da Torá - que são tão
concretas - certamente poderão deixar sua marca em meu coração
sensível". Concorda, então, com a exigência de Rachel e os dois se
casam. Kalba Savua, horrorizado com a escolha da filha, a rejeita e faz
votos de deserdá-la. E, assim, acompanhado de sua dedicada esposa,
que deixara para trás uma vida de luxo para estar a seu lado, Akiva
começa a estudar a Torá cercado da mais cruel pobreza. O casal se
mantinha juntando toras de madeira que Akiva, em parte, vendia, e
ficava com o remanescente para fazer gravetos. Acesos, serviam para
iluminar a casa durante suas prolongadas horas de estudo. Apesar de
trabalharem, ainda lhes faltava alimento, em casa, e Raquel cortou
suas lindas tranças e as vendeu. Com isso, seu marido podia devotar
mais tempo a estudar a Lei.
Rabi Akiva deixou sua casa para estudar na Academia de Yavne, que,
após a destruição de Jerusalém, tornara-se a sede do Sanhedrin
(tribunal judaico) e da erudição judaica. Lá, estudou sob a orientação
de dois luminares talmúdicos - Rabi Eliezer e Rabi Yoshua. Após uma
ausência de doze anos, voltou à sua cidade natal, acompanhado de 12
mil alunos. Ao se aproximar de casa, ouviu sua mulher que conversava
com uma vizinha. Esta lhe perguntava: "Quanto tempo ainda você
viverá como viúva?" Ao que ela respondeu que aguentaria outros doze
anos de solidão para que seu marido se dedicasse por completo ao
estudo da Torá. Ao ouvir aquilo, Rabi Akiva retrocede, voltando à
yeshivá. Decorridos mais doze anos, ele finalmente volta a casa,
acompanhado, desta vez, de 24 mil outros estudiosos da Lei de Moisés.
Rachel corre até ele, prostrando-se a seus pés. Seus discípulos,
desconhecendo de quem se tratava, tentaram afastá-la, mas seu
mestre os deteve com as palavras que ficaram imortalizadas: "O que
hoje possuo e do qual todos vocês desfrutam, somente pude
conquistar graças a ela".
Nesse ínterim, Kalba Savua tendo sabido da chegada à cidade de um
notável erudito judeu, decide procurá-lo para conseguir a anulação
dos votos que fizera contra a filha. Arrependia-se de ter permitido que
Rachel passasse fome durante 24 anos e queria o seu perdão. E o
grande erudito não era outro senão seu próprio genro, a quem
rejeitara. Os dois se reconciliam e Kalba Savua dá a metade de sua
fortuna a Rabi Akiva.
"Quem estuda a Torá na pobreza um dia o fará na riqueza", ensinam
nossos Sábios. E foi o que ocorreu a Akiva. O Talmud revela que a
partir de então, ele se tornou um homem abastado. Em sua casa havia
mesas de ouro e prata. Para sua esposa, que tanto sofrera, que
vendera o lindo cabelo para que ele estudasse, Rabi Akiva comprava os
mais belos adornos. Um destes era uma reprodução de Jerusalém
gravada em ouro.
RABI SHIMON BAR YOCHAI
Rabi Shimon, também conhecido como Rashbi (uma sigla tirada das
iniciais de seu nome - Rabi Shimon Bar Yochai), viveu durante o
segundo século da Era Comum. De modo similar a seu mestre, em
época de grandes perseguições romanas. Conhecido como um
grandioso artífice de maravilhas, era convocado pelos judeus para
realizar milagres em sua intenção. E, por isso, apesar do ódio ancestral
que ele nutria pelos romanos - nunca os tendo perdoado pelos crimes
indescritíveis que cometeram contra seu mestre e contra seu povo - os
líderes judeus da época o enviaram a Roma. Levava a missão de tentar
convencer o imperador romano a extinguir a proibição de se praticar a
religião judaica. Ao descrever esse episódio, o Talmud nos relata um
dos inúmeros milagres que marcaram a vida do Rashbi: a filha do
imperador, possuída por um demônio, esbravejava dizendo que só
havia um homem que a podia exorcizar e que este atendia pelo nome
de Rabi Shimon Bar Yochai. O místico judeu o conseguiu - e a proibição
foi revogada.
No entanto, o ódio que tinha de Roma permanecia imutável e ele nada
fazia para disfarçá-lo; pouco faltou para que se tornasse mútuo. No
ano de 3909 (149 da E.C.), Rabi Shimon, ouvindo um colega judeu louvar
as conquistas romanas, reagiu dizendo que "tudo o que haviam feito de
bom tinha sido em seu próprio benefício, além de motivados por
propósitos imorais". A discussão chegou aos ouvidos das autoridades
romanas, que decretaram que ele fosse morto.
Ato contínuo, o Rabi e seu filho, Rabi Elazar, fugiram e se esconderam
em uma caverna. Lá permaneceram durante treze anos, estudando,
noite e dia, a Torá. Sustentaram-se, dentro da caverna, do fruto de uma
alfarrobeira e da água de uma fonte, surgida do nada. Durante os anos
em que viveram na caverna, pai e filho - tendo o estudo da Torá como
única ocupação - foram visitados pelas almas de Moisés e do profeta
Eliahu, que lhes transmitiram os segredos místicos mais profundos do
universo. E exatamente essa riqueza de conhecimentos, adquiridos na
caverna, foi transcrita como sendo o Zohar - a obra na qual se
fundamenta a Cabalá.
Transcorridos doze anos da reclusão dos eruditos, morre o governador
romano, levando consigo o decreto de morte contra Rabi Shimon.
Quando o grande sábio e seu filho emergem do isolamento da caverna,
deparam com um homem que arava e semeava a terra. Os dois, que se
tinham recolhido por mais de uma década numa caverna, exclusiva e
ininterruptamente estudando a Torá, não podiam compreender como
devotava um judeu o seu tempo a uma ocupação mundana qualquer -
e não a questões eternas, como a oração e o estudo da Lei. Encararam,
pois, o homem, com desagrado, e de seus olhos se projeta um raio de
fogo que o queima. Eis que dos Céus lhes chega uma voz, tonitruante:
"Para destruir o Meu mundo saístes da reclusão?" E a Voz lhes ordenou
voltar ao isolamento da caverna, tendo lá permanecido por mais um
ano, imersos no estudo. Quando, pela segunda e última vez emergem
da caverna, pai e filho regozijaram-se ao constatar que os judeus de
Israel se ocupavam do cumprimento dos sagrados Mandamentos
Divinos. Já não incomodava ao Rashbi o que de mundano o cercava e
disse a Elazar, seu filho, que o que ambos estudaram da Torá bastava
para sustentar o mundo. Rabi Shimon estava em busca de maneiras de
retificar o mundo; não de condená-lo.
De seu longo confinamento, emergiu Rabi Shimon espiritualmente mais
sábio e mais poderoso do que nunca. Reunindo seu filho, seu genro e
os discípulos mais próximos, começa a lhes revelar os segredos da
Cabalá que ele próprio recebera durante os treze anos em que estivera
recluso. Esses grandes mistérios e revelações sobre o processo da
Criação, sobre o relacionamento de D'us com nossa existência e sobre
a feitura da alma humana eram transmitidos oralmente, de geração em
geração, pelos grandes líderes espirituais do povo judeu
exclusivamente a seus pares. Mas, com Rabi Shimon, a Cabalá começou
a ser transcrita, de forma sistemática, e divulgada pelo mundo. Daí
considerarem-no o "pai" do misticismo judaico. Um de seus discípulos,
Rabi Abba, seu escriba mais proeminente, foi quem redigiu o Sefer
Ha'Zohar - "o Livro do Esplendor" - espinha dorsal dos estudos cabalísticos.
4. Costumes
Arcos e flechas: é costume levar as crianças a passeios a parques e
espaços abertos para brincar com arcos e flechas. Conta-se que
durante a vida de Rabi Shimon nenhum arco-íris
apareceu no céu. O arco-íris é símbolo de falha humana:
conforme relatado em Bereshit, D'us, após a destruição
da geração do Dilúvio, prometeu que mesmo que a
humanidade tornasse a ser imerecedora Ele colocaria o
arco-íris no céu como um pacto de Seu voto de jamais
destruir Seu mundo novamente. Mas enquanto Rabi
Shimon estava vivo, seu mérito foi suficiente para
assegurar que D'us não se arrependeria de Sua criação.
O ensinamento chassídico vê outra ligação do arco: ele funciona sob o
princípio de "recuar para poder avançar" - ao empurrar a flecha para
trás, rumo ao próprio coração, o arqueiro a impele a uma grande
distância, para golpear o coração do inimigo. A essência mística da
Torá, disseminada por Rabi Shimon, funciona pelo mesmo princípio. A
pessoa deve mergulhar em si mesma, recolher-se a sua essência e lá
descobrirá a "centelha Divina” que possui. Esta descoberta confere o
poder de derrotar o adversário mais obscuro e transformá-lo em algo
bom e positivo.
Dançar em volta da fogueira: a chama serve
como homenagem a Rabi Shimon Bar Iochai, além
de relembrar as condições de estudo clandestino
nas cavernas. A dança é uma manifestação de
alegria pelo fim do período de luto que precede
Lag Baomer.
Corte de cabelo em Meron: Existe um antigo costume judaico, de
retardar o primeiro corte de cabelo de um menino até seu terceiro
aniversário. Quando a criança atinge os três anos, inicia um novo
estágio de desenvolvimento como judeu. Um menino recebe seu
primeiro corte de cabelo, no qual deixa os peot (costeletas) conforme
prescrito pela Torá; recebe também seu primeiro par de tsitsit (franjas)
e kipá (solidéu). As meninas começam a acender suas velas de Shabat.
Nesta ocasião, a criança judia é apresentada ao estudo de Torá com
balas e mel, para que sempre associe o estudo de Torá com doçura e
deleite.
O corte de cabelo é chamado opsherenish em iídiche, ou chalacá em
hebraico. A família e os amigos reúnem-se para a cerimônia; cada um
pega um cachinho do cabelo, tomando cuidado para deixar os peot
intactos.
Durante o período do Ômer, não temos
permissão de cortar os cabelos em sinal de
luto pelas mortes dos discípulos de Rabi
Akiva. Lag Baômer, entretanto, é um dia de
júbilo, no qual todas as regras de luto pelo
período do Ômer são suspensas. E sendo
assim, em Lag Baômer há sempre muitos
garotos de três anos que estão esperando
desde Pêssach para terem seu primeiro
corte de cabelo.
Eis porquê, em Meron, a cada Lag Baômer vemos dezenas e dezenas
de cerimônias de corte de cabelo. Esta é considerada uma maravilhosa
bênção para a criança, ter seu opsherenish no local onde foi sepultado
Rabi Simon bar Yochai.
Tsedaká: durante o dia de Lag Baômer, data que no
calendário judaico corresponde a 18 de Iyar, doa-se para
caridade no valor de 18.
Ovos cozidos: Costuma-se comer ovos cozidos em Lag
Baômer, pois o ovo é sinal de luto – neste dia, em memória
a Rabi Shimon Bar Yochai. Ainda em vida, ele pediu que
esse dia fosse celebrado com muita alegria. Para cumprir
seu pedido, enfeitamos as cascas dos ovos. Há o costume
de serem cozidos com com cascas de cebola, a fim de
deixá-los coloridos.