Leis de comportamento da Torá
Há nelas onze mandamentos: cinco preceitos positivos e seis negativos. São eles:
1 Assemelhar-se a Deus em Suas virtudes.
2 Ligar-se a Seus conhecedores.
3 Amar ao próximo.
4 Amar aos conversos.
5 Não odiar aos irmãos.
6 Admoestar.
7 Não envergonhar publicamente a ninguém.
8 Não causar sofrimento aos sofredores.
9 Não ser "rakhil" - (o "mexeriqueiro" do linguajar comum).
10 Não vingar-se.
11 Não conservar mágoa no coração.
Capítulo 1
1 Variadas personalidades há entre as pessoas - distintas entre si e distantes umas das outras exacerbadamente. Pessoas há iracundas, que sempre encontram-se iradas; outras, [entretanto], sempre calmas, não se enervam jamais; e, caso aconteça, pouco se enervarão, e uma vez apenas em anos. Outras há que são orgulhosas exageradamente, enquanto que outras chegam a ser mais que humildes. Uns, são exageradamente viciosos - não conseguem satisfazer-se de seus desejos; outros, sua pureza é tão grande que não desejam sequer as coisas que são imprescindíveis às necessidades físicas.
2 Há aqueles que são demasiadamente ambiciosos, nunca estarão satisfeitos mesmo tendo todo o dinheiro que exista no mundo, conforme o que fora escrito: "Quem ama a prata, dela não se satisfará!" (Ec 5:9); outros, diminuidores de suas ambições, é-lhes bastante mesmo o mínimo que nem é suficiente, sem que desejem conseguir para si [sequer] segundo suas necessidades.
3 Existe o que causa a si próprio suplício de fome - fechando sua mão para não comer nem sequer uma moeda mínima de seu dinheiro, a não ser por grande angústia; há porém, outro - que destrói seu próprio dinheiro por suas próprias mãos, conscientemente. Assim, todas as demais personalidades - como o álacre e picaresco, o feral e tristonho; o nobre e o miserável, o perverso e o misericordioso, o medroso e o corajoso e assim por diante.
4 Há entre [estas diversas classes de] personalidades distantes umas das outras as que encontram-se no meio - [também estas] distantes umas das outras. Todas as personalidades, delas há que a pessoa já as tem por natalidade, de acordo com sua natureza corporal. Outras, o homem adquirí-las-á durante sua vida, pela inclinação natural de seu corpo, mais rapidamente que outras. Outras, recebê-las-á por intermédio de outras pessoas, aprendendo-as, ou buscando-as por si mesmo, de acordo com um pensamento que teve, ou por que ouvira dizer que esta é boa para si, devendo seguir por tal caminho, acostumando-se a ela até que transformara-se em sua própria natureza peculiar.
5 Ambos os extremos de todas as personalidades - não é aconselhável para ninguém tomá-los por meta, [a saber - para que seja] "sua forma de ser", não sendo apropriado para nenhum ser humano andar por elas ou ensiná-las a si próprio. E, caso achar que sua natureza pessoal se inclina para uma delas naturalmente - ou que é pronta para uma delas, ou que já aprendera uma delas, acostumando-se - deve obrigar-se a si próprio o retorno ao bem, buscando o caminho dos bons, que é o caminho reto.
6 O caminho reto é a personalidade mediana entre todas as personalidades que existem entre os seres humanos - aquela que encontra-se distante de ambos os extremos distância igual, sem que esteja próxima nem de um, nem do outro. Portanto, ordenaram os Sábios que esteja o homem sempre verificando sua personalidade, pesando sua forma de agir [como que] numa balança, colocando-a sempre no [caminho do] meio, para que torne-se perfeito.
7 Como assim? Não seja iracundo, irando-se facilmente - tampouco como um morto que nada sente, senão mediano: não se ire a não ser por uma grande razão sobre a qual realmente há motivo para tanto, para que não venha a agir assim em outra ocasião.
8 Assim também, não deseje senão as coisas necessárias ao corpo, sem que possa subsistir sem elas - conforme está escrito: "O justo come [somente] para satisfação de sua alma!" - Pv 13:25. Igualmente, não esteja trabalhando a não ser para conseguir o que necessita para pouco tempo, conforme está escrito: "Bom é o pouco para o justo..." - Sl 37:16. Tampouco feche sua mão demasiadamente, bem como não espalhe todo seu dinheiro - senão fazendo caridade de acordo com o que pode, emprestando a quem precise. E, não seja burlesco e risonho, nem tristonho e melancólico, senão alegre por todos os seus dias controladamente, demonstrando sempre um bom rosto para os demais. Assim seja também [faça] com todas as demais maneiras de ser, sendo este o caminho dos sábios.
9 Toda pessoa cujas maneiras sejam todas medianas, é chamado sábio. Quanto àquele que se afasta do caminho do meio por ser meticuloso consigo mesmo, aproximando-se mais de um dos lados - é chamado ĥassid.
10 Como assim? Quem afasta-se de ser orgulhoso até o outro extremo, tornando-se mais que humilde - é chamado ĥassid. Quanto a esta forma de agir, é chamada midat ĥassidut. [Mas], caso distanciara-se [de sua tendência] somente até o meio - tornando-se humilde - é chamado sábio, sendo esta forma de agir [chamada] midat ĥokhmá. Os ĥassidim da antiguidade desviavam suas maneiras do meio para uma das extremidades: umas para uma extremidade e outras para outra. Isto, [porém], está além do que é toda pessoa obrigada a cumprir.
11 Somos ordenados a andar por estas sendas do meio - que são os caminhos do bem, os caminhos retos, de acordo com o que está escrito: "Andarás por Seus caminhos" - Dt 28:9. Assim ensinaram [os Sábios do Talmud] com respeito ao cumprimento deste preceito: "Como é Ele (Deus)? - Piedoso?! Também tu, sê piedoso! Como é Ele? Misericordioso?! Tu também, sê misericordioso! Como é Ele? Santo?! Que tu sejas também santo!!" - Por esse motivo é que chamaram os profetas a Deus por estas qualificações - "Piedoso", "Paciente e Bondoso", "Justo e Reto", "Pleno", "Poderoso e Forte" e assim por diante - para fazer saber que são estes bons caminhos e retos, e o homem é obrigado a conduzir-se por eles e parecer-se [com as formas como Deus é chamado] de acordo com sua capacidade.
12 Como se acostumará uma pessoa a estas qualidades personais até que se façam nele permanentes? - Deve agir assim uma, duas e três vezes nas coisas das quais se ocupa de acordo com a forma de agir mediana, voltando-se a elas sempre - até que sejam seus feitios [em tal forma de agir] fáceis para si, sem que se esforce [para agir conforme elas]; assim, tornar-se-ão permanentes em sua pessoa.
13 Por serem estes os nomes pelos quais é cogominado o Formador, são os mesmos os caminho mediano pelo qual devemos caminhar - pelo que é chamado "O caminho de Deus". Era este o caminho que ensinava Abraham a seus filhos, conforme está escrito: "Pois Eu o conheci, para que ordene a seus filhos e a sua casa após si que guardem o caminho de Deus!" - Gn 18:19.
14 Quem anda por este caminho, traz bem e bênção para si mesmo, como o que está escrito [no mesmo lugar mencionado]: "...para dar Deus a Abraham tudo o quanto lhe dissera...".
Capítulo 2
1 Os doentes físicos provam o amargo como doce, e o doce, amargo, havendo entre os doentes aqueles que desejam e apetecem-se pelos alimentos que não são sequer apropriados para alimentação - como a terra e o carvão, odiando os bons alimentos como o pão ou a carne - tudo de acordo com a gravidade da enfermidade. Idênticas são as pessoas cujas mentes encontram-se enfermas: desejam e amam as más personalidades e odeiam o bom caminho, e têm preguiça de andar por ele, sendo difícil para eles demasiadamente, tudo de acordo com a gravidade da enfermidade. Assim disse Isaías sobre as tais pessoas: "Ai dos que dizem sobre o mal, bem - e, sobre o bem, mal - que põem as trevas como se fossem luz - e, a luz, como se fosse trevas, trocando o amargo pelo doce e o doce pelo amargo!" - Is 5:20. Sobre eles, está escrito: "Os que abandonam os caminhos de retidão para andar por caminhos de escuridão!" - Pv 2:13.
2 Qual é a cura dos enfermos mentais? - Ir aos sábios, pois eles são os médicos para a mente - estes dar-lhes-ão cura, direcionando-lhes sua forma de agir até que retornem ao caminho do bem. Quanto àqueles que são cônscios de suas más personalidades e não vão à procura dos sábios para que os curem, sobre os mesmos disse Salomão: "Desfazem-se os estultos da moralidade..." - Pv 1:7.
3 Qual é seu medicamento? - A quem é irado, aconselha-se que se acostume a que, caso seja golpeado ou insultado - [controle-se, e] nada sinta, fazendo assim durante muito tempo, até que se desarraigue a ira de seu coração. Caso seja orgulhoso - que acostume-se a colocar-se em situações que sejam muito vergonhosas [para si], sentando-se sempre nos lugares menos importantes que todos, e vista-se com farrapos ignominiosos a quem os vestir, e assim por diante, até que se desarraigue o orgulho de si, tornando-se para o caminho do meio - o bom caminho - e, quando a ele retornar, perdure nele durante todos seus dias.
4 O mesmo método é equivalente para todas as personalidades: caso encontre-se distante de um dos extremos, deve tomar distância dele até o outro extremo, acostumando-se nele por muito tempo; só após isto pode voltar para o bom caminho, que é a medida mediana de cada personalidade.
5 Existem, porém, algumas - nelas é proibido que a pessoa siga no caminho do meio, devendo distanciar-se até o extremo oposto - que é o caso do orgulho, pois não é bom que a pessoa seja apenas humilde, [senão mais que isto,] que seja humilde de espírito, e que o seja muito. Por este motivo foi dito sobre Moisés, nosso Mestre, que era muito humilde. Disseram ainda os [Sábios] que todo o que exalta-se, descrê de um dos princípios da Torá, conforme o que está escrito: "Que não eleve-se teu coração, e venhas a esquecer a Adonai teu Deus!" - Dt 8:14. E, disseram ainda: "Encontra-se em ĥêrem aquele no qual haja orgulho", e mesmo que seja pouco dele! - Sotá 5b.
6 Semelhantemente, a ira - é demasiadamente má a personalidade iracunda, sendo apropriado para todas as pessoas que não se irem jamais, mesmo por algo sobre o qual seria correto enervar-se. Mas, caso queira fazer com que temam-no seus filhos e os de sua casa, ou o público, caso trate-se de um líder comunitário, querendo irar-se sobre eles, para que voltem-se para o bem - faça-se para eles como que estando irado, para que sintam o [mal] que fizeram, porém esteja consigo mesmo tranquilo, como uma pessoa que faz-se de homem irado durante o instante de alteração de nervos - sem, contudo, estar nervoso.
7 Disseram os Sábios da antiguidade: "Todo o que se ira, é como se houvesse praticado idolatria!" E, disseram [ainda]: "Todo o que se enerva, caso seja sábio - sua sabedoria se vai dele; se profeta for, vai-se dele sua profecia. Os iracundos, sua vida não é vida." Portanto, ordenaram que se distancie da ira, até que se faça alguém que não sente nem sequer as coisas que [deveras] enervam. Este é o bom caminho, o caminho dos justos: "São insultados, e jamais insultam; ouvem aos que os envergonham, sem dar-lhes resposta; tudo fazem por amor, alegrando-se em seu sofrimento". Sobre eles, diz o escrito: "Os que O amam - são como o sol em seu poder!" - Jz 5:31.
8 Sempre - procure estar a pessoa em silêncio, e não fale a não ser algo de sabedoria, ou algo necessário para a vivificação de seu corpo. Disseram sobre Rav, o aluno de Rabênu ha-Qadôch (Rabi Judá ha-Nassi) que jamais proferira durante toda sua vida sequer uma pronunciação vã - que é a conversa da maioria das pessoas. E, mesmo com respeito às necessidades corporais, não aumente suas palavras. Sobre isto ordenaram os Sábios: "Todo o que excede em palavras, traz pecado." E, disseram [também]: "Nada achei que fosse bom para o corpo - senão o calar-se!".
9 Assim também em concernência às palavras da Torá e palavras de sabedoria [em geral] - sejam as palavras do sábio escassas, e seu conteúdo quantitativo. Isto é o que disseram os Sábios: "Ensine a pessoa sempre a seus alunos por um curto caminho!" Todavia, caso sejam as palavras muitas e o conteúdo escasso, é estultície, sobre o que está escrito: "Pois vem o sonho com demasiado conteúdo, e a voz do estulto com demasiadas palavras!" - Ec 5:2.
10 O resguardo da sabedoria é o calar-se. Portanto, não se apresse em dar resposta, nem fale demais. Ensine-se aos alunos tranquilamente e com afabilidade, sem grito, e sem falar longamente. é o que disse Salomão: "As palavras dos sábios são ouvidas por sua afabilidade!" - Ec 9:17.
11 Proibido é que se acostume a falar hipócrita e sedutoramente. Tampouco seja distinto o que profere por sua boca e o que sente em seu coração, senão seja o mesmo interior e exteriormente, sendo o que profere por sua boca o mesmo que tem em seu coração. E, é proibido enganar as pessoas, mesmo ao gentio.
12 Como assim? - por exemplo, não venda-se carne de animal cuja degola não fora segundo a lei judaica para o gentio, como se houvesse sido [apesar de saber que é-lhe permitido] a carne abatida comumente, nem sapato fabricado da pele de um animal encontrado morto afirmando ser de um animal degolado segundo os pormenores da Torá [apesar de não haver no fato de calçar tal sapato proibição alguma]. Tampouco insista com seu amigo que venha ceiar consigo, sabendo que não aceitará, e nem ofertas, sabendo que não as aceitará. Não abra-lhe odres de vinho que destinaria para comício, seduzindo-o, [levando a crer] que por sua honra abrira. Assim, tudo o que a estas cousas se assemelhe. Mesmo uma palavrinha de sedução ou de engano é proibida. Senão, lábios verazes e espírito correto - coração limpo de toda maldade ou má intenção.
13 Não seja brincalhão e invectivo, tampouco tristonho e melancólico - senão [simplesmente] alegre. Assim disseram os Sábios: "O brincar e o agir desrespeitosamente atraem as relações [sexuais] ilícitas." Ordenaram que não seja o homem desmedidamente brincalhão, nem triste e enlutado - senão receptor de todas as pessoas com rosto afável.
14 Igualmente, não seja ambicioso, desperto para a riqueza, nem ocioso e desocupado, senão pessoa de bons olhos, [que significa]: trabalha pouco, e ocupa-se do [estudo da] Torá, sendo que no pouco que se lhe chega, alegra-se nele. Não seja violento (brigão), nem tampouco invejoso, nem carnal, nem perseguidor de honrarias. Assim disseram os Sábios: "A inveja, a carnalidade e a honraria, quitam o homem do mundo!" Regra geral: Ande por medida mediana em todas classes de personalidade, até que estejam suas maneiras direcionadas pela do meio, que é o que disse Salomão: "Todos seus caminhos sejam ratificados!".
Capítulo 3
1 Provavelmente, dirá alguém: "Já que a carnalidade e a honraria e semelhantes são coisas más e tiram o homem do mundo - me afastarei delas o máximo possível, até o último extremo!..." - até tornar-se celibatário e abstêmio, não comendo carne e não tomando vinho [sequer], sem desposar uma mulher, viver numa boa casa, ou vestir boas roupas - senão o saco ou a lã rústica, ou semelhantes - como fazem os sacerdotes de Edom - também é este um mau caminho, sendo proibido segui-lo.
2 Quem trilhar este caminho - é chamado pecador. Assim está escrito acerca do nazir: "Expiará sobre ele pelo que pecou sobre a [sua] alma..." - disseram os Sábios: "Se o nazir, que não proibira a si mesmo senão o vinho, precisa expiação, o que se proíbe a si mesmo tudo, quanto mais!".
3 Portanto ordenaram os Sábios que não se proíba a pessoa a si própria, senão o que já lhe proibira a Torá, e não esteja proibindo-se a si mesmo cousas que lhe são permitidas por votos ou por por promessas. Assim disseram os Sábios: "Não é-te suficiente o que te proibira a Torá, para que venhas a proibir-te a ti mesmo outras coisas?!".
4 Inclui-se nisto os que estão sempre jejuando - pois não encontram-se em bom caminho, e [portanto] proibiram os Sábios que esteja a pessoa autoflagelando-se por jejuns. Sobre todas estas cousas ordenou o Rei Salomão, dizendo: "Não sejas demasiadamente justo, nem queiras ser exacerbadamente sábio - para que autodestruir-se?!".
5 É necessário que a pessoa dirija todos seus feitos com apenas uma meta: alcançar o conhecimento do Santo, Bendito é Ele! Que seja sua maneira de sentar, modo de falar - tudo - somente com esta finalidade. Como assim? Quando negociar, ou quando fizer algum trabalho para receber seu salário - não pense somente no ajuntar dinheiro, senão sejam estas cousas para que possa encontrar aquilo que o corpo necessita em concernência à alimentação, aquisição de uma casa e casamento.
6 Similarmente - quando comer, beber e manter relações maritais, não pense em fazer estas coisas somente buscando o prazer, até o ponto de chegar a comer somente o que é saboroso, e se relacione somente pelo prazer. Ao contrário, tenha sua atenção somente no comer e no beber que dê saúde para seu corpo e seus membros. Portanto, não coma tudo o que o paladar deseja, como o cachorro e o burro - senão as coisas que lhe sejam saudáveis, sejam elas amargas ou doces. E, nã coma as coisas que prejudicam ao corpo, mesmo que sejam deliciosas.
7 Como assim? Por exemplo - alguém cuja carne seja quente - não coma carne, mel e nem tome vinho - conforme o dito de Salomão, analogamente: "Tomar mel..." - Pv 25:27 - e, tome sumo de losna (erva medicinal), apesar de seu amargor. Assim, estará comendo e bebendo por forma medicinal, somente, para que esteja são e pleno, já que é impossível viver sem comer e beber.
8 Igualmente, quando exercer suas relações maritais - que não sejam senão para dar saúde ao corpo ou para procriar, não sempre que desejar, senão sempre que sinta que necessita tirar de si sêmen, por razão medicinal, ou para procriação.
9 Todo o que leva sua vida de acordo com a medicina - se pensar que o faz somente para que estejam seu corpo e membros perfeitos, ou a pessoa que pensa em procriar para que seus filhos estejam ocupando-se de seu trabalho e esforçando-se por suas necessidades - não está em um bom caminho. Deve por sua atenção que seu corpo esteja perfeito e forte, para que esteja sua alma reta para o conhecimento de Deus - sendo impossível que a pessoa entenda e dê atenção às ciências estando doente, ou sentindo dores em um de seus membros. [Igualmente, ao gerar,] que tenha um filho - e, talvez se torne um sábio de Torá e uma grande personalidade no povo de Israel.
10 A pessoa que assim fizer por todos seus dias - estará permanentemente servindo a Deus, mesmo em seus negócios, ou quando mantém relações sexuais, pois seu pensamento em tudo - para conseguir suas necessidades, que se ache seu corpo perfeito para servir a Deus.
11 Mesmo quando dormir - se foi dormir consciente que o faz para que seus nervos e sua mente descansem, descansando também o corpo, evitando que lhe sobrevenha alguma enfermidade - pois como poderá servir a Deus, estando doente?! - estará também seu sono serviço a Deus, Bendito é Ele. Acerca disto ordenaram e disseram os Sábios: "Em todos teus caminhos, conhece-O, e Ele endireitará tuas veredas!" - Pv 3:6.
Capítulo 4
1 Por ser o estado saudável do corpo e sua perfeição algo dos caminhos de Deus, sendo impossível que entenda ou que alcance conhecimento estando doente - é necessário que as pessoas se afastem de cousas que são deléveis ao corpo, acostumando-se às saudáveis e revitalizadoras - que são:
2 Jamais coma, a não ser quando estiver faminto, e não beba, a não ser quando estiver sedento. Não deixe esperar seus órgãos, nem mesmo por um instante sequer. Ao contrário, sempre que precisar urinar ou evacuar, levante-se imediatamente para fazê-lo.
3 Jamais coma até encher a barriga, senão menos, como que um quarto de sua satisfação, e nunca beba água durante sua refeição, a não ser pouca e mesclada com vinho. E, quando começar o alimento a digerir-se no estômago, pode beber tudo o que precisa. [Porém,] não beba água em demasiada quantidade. E, não coma enquanto não haja verificado a seu corpo [em concernência às necessidades fisiológicas].
4 Não coma sem antes haver andado até seu corpo principiar a esquentar-se, ou faça algum trabalho físico, ou canse a seu corpo em outra coisa. Regra geral: esforce seu corpo e canse-o todos os dias pelo amanhecer até que se aqueça, após o que deve aquietar-se até tranquilizar-se, depois do que pode comer. Caso haja tomado um banho quente após exercitar-se, [e antes do alimento], é isto muito bom. Depois disto, espera um pouco, e pode comer.
5 Sempre, ao comer, sente-se em seu lugar, ou [caso esteja acostumado ao sistema oriental, que comem semi-deitados,], entorne-se sobre seu lado esquerdo. Não ande nem monte a cavalo, nem esforce a seu corpo nem passeie até que haja-se digerido completamente o alimento em seu intestino. Todo o que passeia após o alimentar-se, ou se esforça - traz sobre si más doenças, difíceis de ser curadas.
6 O dia e a noite têm vinte e quatro horas, sendo suficiente para o homem dormir um terço disto, ou seja, oito horas, e que sejam no final da noite, para que haja entre o princípio de seu sono até o sair do sol oito horas, estando levantando de sua cama antes do sair do sol.
7 Não durma sobre a face, nem sobre a nuca, senão de lado - no princípio da noite sobre o lado esquerdo, e em seu final sobre o lado direito. Não durma logo após haver comido, senão espere após comer como três ou quatro horas, e não durma de dia.
8 Coisas que são aliviantes para o intestino, como por exemplo as uvas, os figos, os morangos, as peras e as melancias, as abobrinhas e os pepinos - devem ser comidos antes do alimento. Não podem ser comidos ao mesmo tempo, misturados com o alimento. Deve comê-los e esperar um pouco, até que saia do intestino superior - após o que pode comer seu alimento. Coisas que forcem o funcionamento do intestino - como as romãs e os marmelos, maçãs e a pera desértica - comê-los-á imediatamente após o a refeição, e jamais coma muito destas frutas.
9 Ao desejar comer carne de ave e animal em uma mesma refeição, coma antes a carne avícola. O mesmo concernente a ovos e carne avícola, coma a princípio os ovos. Assim também com respeito à carne ovina ou caprina ou demais animais leves com carne de animal pesado, deverá comer antes a carne animal leve. Sempre: primeiro come-se o [alimento] leve, e depois o pesado.
10 No verão, comam-se alimentos frios, e não demasiado temperados, e conservas. No inverno - comam-se os alimentos quentes e bem temperados, e [é apropriado que se coma] um pouco de mostarda e assafétida. De acordo com esta forma de agir, deve-se proceder nas regiões frias e nas quentes - cada lugar conforme é-lhe mais acertado o modo de proceder.
11 Alimentos há que são exacerbadamente maus, sendo aconselhável para as pessoas que jamais comessem deles - como os grandes peixes salgados armazenados por muito tempo, e o queijo salgado e envelhecido, e as túberas e os fungos, e a carne salgada armazenada por muito tempo, e o vinho antes de completar seus dias para que se faça vinho, o alimento cujo cheiro exala por razão de seu tempo, bem como todo alimento mal cheiroso ou demasiadamente amargoso, são para o corpo como veneno mortífero.
12 E, outros alimentos há que são maus, todavia não tanto quanto estes anteriormente citados. Portanto, é consentâneo que não se coma deles senão pouco e após muitos dias, nem acostume-se a fazer desses seu alimento permanente, como por exemplo os grandes peixes, queijo e leite depois de passar vinte e quatro horas após a ordenha, a carne dos grandes touros e dos grandes caprinos, o feijão oriental ("pol", na michná, "ful" em árabe), as lentilhas, o "sapir" (outro tipo de "pol"), o pão de cevada, o pão ázimo, o repolho,o alho-porro, as cebolas, o alho, a mostarda e o rabanete: todos estes são maus alimentos.
13 Não é aconselhável que se coma destes alimentos a não ser o mínimo e [somente] no inverno, e fora do inverno, nada se coma deles. Somente o "pol" e as lentilhas não são aconselháveis jamais - nem no inverno e nem nas demais estações. As abóboras, coma-se delas um pouco durante o verão.
14 E, outros alimentos há que também são maus, porém diferem destes, e são: as aves aquáticas, os filhotes dos pombos, as tâmaras, o pão assado no óleo, ou amassado no óleo, a farinha que fôra peneirada até que não restara nela o cheiro da casca superior, o molho de verdura com carne e o molho de peixe. Não é bom comer destes alimentos demasiado, e a pessoa que é sábia vence a seus instintos sem deixar-se levar pelos desejos físicos, deixando de comer de tudo isso qualquer quantia, a não ser em caso de necessidade por orientação médica - e este é um forte.
15 Deve-se sempre evitar as frutas das árvores, não comendo muito delas nem mesmo quando secas, sem que seja necessário falar sobre elas em sua forma natural. Outrossim, antes de amadurecer-se totalmente, são para o corpo como espadas. O mesmo em concernência ao fruto da algarroba (ĥaruv = árvore do mediterrâneo usado em lugar do cacau, cujos frutos lembram em seu formato uma espada oriental) - são eternamente maus. igualmente, as frutas azedas, não se deve comer delas jamais, a não ser pouco e durante o verão ou nos locais de clima quente. Quanto aos figos, as uvas e as amêndoas, são sempre bons frutos, sejam frescos ou secos, podendo comer deles segundo toda sua necessidade. Porém, não exagere em comê-los permanentemente, apesar de serem as melhores dentre todas as frutas arbóreas.
16 O mel e o vinho - é péssimo para os menores e ótimo para os idosos, mais ainda no inverno. Imprescindível é que se coma nas demais estações dois terços do que come durante os dias do inverno.
17 Deve-se sempre cuidar que estejam os intestinos soltos durante todos seus dias, chegando a estar pouco próximo à diarréia, e é isto um grande princípio na medicina - que todo o tempo que estiver o intestino preso, no ponto em que a pessoa esteja impedida de fazer suas necessidades, ou que faça com dificuldade, doenças várias se sobrevêm [sobre a pessoa].
18 Como se faz para que os intestinos estejam soltos, caso hajam-se endurecido um pouco? - comendo pela manhã maluaĥ (planta da família das leguminosas, cujo nome científico é "Atriplex") cozidos e temperados com óleo, com sal e com molho de peixe, sem pão, ou tome suco de espinafre ou de repolho com óleo, sal e molho de peixe, e [não coma nada,] esperando por quatro horas. Caso trate-se de um velho, que tome mel em água quente pelo amanhecer, esperando por mais ou menos quatro horas. depois disto, coma sua refeição. Que faça assim por três ou quatro dias, caso necessite, até estarem soltos seus intestinos.
19 Outra regra disseram (os sábios da medicina): Enquanto a pessoa faz exercícios e cansa a seu corpo, comendo sem satisfazer-se, conservando seus intestinos soltos - jamais vem sobre ele enfermidade alguma, mesmo que coma maus alimentos. E, todo o que se mantém sentado em descanso e não exercita a seu corpo, ou quem sente necessidades fisiológicas e deixa passar o tempo sem evacuar seu ventre, ou quem tem seu intestino difícil - mesmo comendo somente bons alimentos e guardando-se segundo as regras medicinais - todos seus dias serão doloridos, e sua força se vai. Quanto à comida pesada, é para o corpo como veneno mortífero, sendo a principal causa da maioria das doenças.
20 A maioria das doenças que vêm sobre as pessoas - não vêm a não ser pelo comer coisas que prejudicam, e por encher a barriga e comer comidas pesadas, mesmo de alimentação saudável. é o que disse Salomão por sua sabedoria: "Aquele que guarda sua boca e sua língua - guarda de angústia a sua alma!" - Quer dizer: Quem guarda sua boca - de comer alimentos que prejudicam, ou que se guarda de estar satisfeito; sua língua - para não falar, a não ser o necessário.
21 O costume de banhar-se: que entre ao banho [pelo menos] uma vez a cada sete dias, e nunca entre imediatamente antes da refeição ou quando sentir fome, senão [após a refeição,] quando o alimento começa a digerir-se. Deve lavar todo o corpo em água quente que não seja demasiado quente, após o que lava seu corpo com água morna, depois na água menos morna e, em seguida, em água fria. Sobre a cabeça, [porém,] não deverá vir água nem morna nem fria. Não deve tomar banho frio durante o inverno, nem lavar-se até que o corpo esteja suando e machucando o corpo, senão ao começar a suar e machucar o corpo, enxague-se e saia [do banho].
22 É necessário que se verifique a si próprio antes de entrar ao banho e após sair dele, [pois] pode ser que precise realizar necessidades fisiológicas. Deve fazer isto sempre - antes do alimento e após ele, antes das relações conjugais e depois, antes de cansar-se por exercitar-se fisicamente, e depois disto; antes de dormir, e ao despertar: dez ao todo.
23 Ao sair do banho, deve vestir-se na sala exterior, para não receber vento frio, devendo esperar depois de haver saído do banho que seu corpo descanse e esfrie, e depois disto poderá comer. Caso puder dormir um pouco após haver saído antes de alimentar-se - isto é muito bom!
24 Não tome água fria ao sair do banho, e nem é necessário dizer durante ele. Caso esteja tão sedento ao sair que não pode controlar-se, misture a água com vinho ou com mel, e tome. Caso unte-se com óleo durante os dias do inverno, após o banho - isso é bom!
25 Não acostume-se a tirar sangue sempre, e não faça-o a não ser em caso de extrema necessidade. Não faça nem no verão, nem no inverno, senão [nas estações intermediárias,] nos dias da primavera e um pouco do outono. Depois de haver completado seus cinquenta anos de idade, não tire [seu] sangue de forma alguma. Tampouco tire sangue e entre na casa de banhos ( = tipo sauna de nossos dias) no mesmo dia. Não tire sangue e saia em viagem, nem o faça no dia em que voltou de viagem, e coma e beba no mesmo dia menos do que é seu costume, descansando nesse dia, não se exercite nem passeie.
26 A ejaculação é a força corporal e a luz dos olhos. Sempre que ela sai demasiado - o corpo se esgota, sua força se vai e sua vida se perde. é o que disse Salomão por sua sabedoria: "Não dês às mulheres tua força, nem teus caminhos [entregues] para quem destrói a reis!" - Pv 31:3.
27 Todo o que mantém relações exageradamente, a velhice se sobrevém rapidamente sobre ele, enfraquece e seus olhos perdem o brilho natural. De sua boca exala mal hálito, bem como é forte o odor de suas axilas. Seu cabelo, os pelos de suas sombrancelhas e de seus cílios começam a cair, aumentando assim o cabelo de suas pernas e de suas axilas, e seus dentes caem. Muitas dores, além destas, se sobrevém sobre essa pessoa.
28 Já disseram os médicos: um dentre mil morre de doenças, e todos eles de exacerbado relacionamento sexual. Portanto, é necessário que a pessoa tome cuidado com isto, se quiser viver bem. Jamais tenha relações maritais, a não ser que esteja seu corpo sadio e fortíssimo, e sua ereção estiver demais, e sem intenção, mudando seu pensamento para qualquer outra coisa, e a ereção [continua] conforme estava, sentindo um peso a partir da cintura, como se os fios dos ógãos sexuais masculinos abaixo que chegam à região da cintura estivessem sendo puxados, e sua carne - quente. Este - necessita o sexo, e é cura para ele o relacionamento sexual.
29 Não relacione-se quando estiver satisfeito, nem faminto, senão após o diregir do alimento. Verifique a seu corpo antes e após a relação concernente às necessidades fisiológicas, tanto antes como depois. Não se relacione de pé, nem sentado, nem no banheiro, nem no dia em que tirou sangue - nem no dia em que vai sair de viagem, ou volta dela. Nem antes, nem depois.
30 Todo o que se acostume a andar segundo estas normas que ensinamos aqui - eu tomo sobre mim a responsabilidade ao assentir que jamais virá a estar doente durante toda sua vida, até envelhecer muito e morrer, não necessitando de médico, estando seu corpo perfeito e são todos seus dias - a não ser que já tivesse algum problema salutar natalício, ou que já fora acostumado a agir segundo os maus procederes desde sua infância, ou que venha alguma pestilência epidêmica ou fome sobre o mundo.
31 Todas estas normas que trouxemos aqui - não é aconselhável que sejam observadas senão pelo sadio. Quanto ao doente, ou alguém que tenha um de seus membros enfermiço, ou quem quer que haja procedido erroneamente por muitos anos - para cada um existem meios e costumes distintos - cada um de acordo com sua doença - como é esclarecido nos livros medicinais: e, a mudança de menstruação é a fonte para todos os males.
32 Em todo local no qual não haja médico - tanto o sadio como o doente - não é apropriado que se afastem destes pormenores que dissemos nestes capítulos, pois cada um deles traz a um bom fim.
33 Toda cidade na qual não hajam estas dez coisas - não tem o talmid ĥakhamim permissão para viver nela. São elas: 1) médico; 2) artesão; 3) casa de banho (público); 4) local (público) para necessidades fisiológicas; 5) água ao alcance, como um rio ou fonte; 6) sinagoga; 7) instrutor de crianças; 8) escritor de utensílios sacros [tefilin, mezuzá, sêfer Torá]; 9) gabái - (responsável pela distribuição beneficente aos pobres); 10) bet din (tribunal de Torá), algozes (segundo a Torá) e enfermeiros (que se encarreguem dos açoitados pelo bet din.
Capítulo 5
1 Da mesma forma como o sábio é reconhecido por sua sabedoria e por sua índole, sendo separado dos demais, igualmente - é necessário que seja reconhecido por seus atos, por sua forma de comer, por seu modo de beber, por seu relacionamento marital, por suas maneiras concernentes às necessidades fisiológicas, por sua forma de falar, por seu andar, por seu vestir, pelo conteúdo de suas palavras e por seus negócios.
2 Como assim? - o sábio não deve ser comilão e beberrão, senão come o alimento que é-lhe saudável, e não come dele exageradamente. Não estará perseguindo o empanturrar-se, como os que se enchem de comida e bebida até que se inche sua barriga, sobre os quais está escrito na qabalá: "...Lançarei excremento em vossos rostos, excremento de vossas festas..." - Ml 2:3 - disseram os Sábios: "Estes são os que comem e bebem, fazendo todos seus dias como festas!"
3 São os que dizem: " - Coma e beba, pois amanhã morreremos!" - Is 22:13 - esse é o alimentar-se dos iníquos. Essas mesas são as que delas desdenhara o escrito, dizendo: "Pois todas as mesas encheram-se de vômito, de excremento, sem [restar] lugar [vazio]." Quanto ao sábio - este não come a não ser um cozido ou dois, e come dele somente o que necessita para manter-se vivo, e basta. É o que disse Salomão: "O justo come para a satisfação de sua alma!" - Pv 13:25.
4 Ao comer o sábio este pouco que é-lhe suficiente,não deve comê-lo a não ser em sua própria casa, em sua [própria] mesa, não em lugar público nem em restaurante, a não ser em caso de extrema necessidade, para que não se desonre perante as pessoas em geral. Não deverá comer entre as pessoas cujo conhecimento de Torá é parco, nem entre os [citados acima,] cujas mesas são repletas de vômito e excremento. De qualquer modo, não deverá aumentar o quantidade de suas refeições, mesmo entre os sábios. Jamais coma em refeições nas quais haja grande ajuntamento de pessoas, não sendo apropriado que coma senão em refeições de cunho espiritual, como refeição de casamento - e no caso de que sejam de um sábio que tomara por esposa a filha de outro sábio. Os justos e os ĥassidim da antiguidade jamais comiam em qualquer refeição que não fosse deles mesmos.
5 Ao tomar vinho, o sábio não toma a não ser para ajudar ao digerir do alimento que já encontra-se em seu estômago, e todo o que se embriaga é pecador e desonrado e perde sua sabedoria. Caso embriague-se perante a gente comum, de parco conhecimento de Torá, profana o Nome de Deus. É-lhe proibido beber ao meio dia, mesmo em pouca quantidade, a não ser durante uma refeição - pois a bebida durante a alimentação não causa embriaguez, não sendo necessário cuidar-se senão do vinho que vem após o alimento.
6 Apesar que a mulher é permitida a seu esposo sempre, é consentâneo que o sábio proceda sempre em santidade: não se ache sempre com sua esposa, como se fosse um galo [em busca de suas galinhas], a não ser de uma noite de sábado para outra, caso tenha força para tanto. E, quando "conversar" com ela, não faça-o nem no começo da noite, quando encontra-se satisfeito e sua barriga está cheia - nem no seu fim, quando está faminto - senão no meio da noite - quando digerir-se o alimento que encontra-se em seu corpo.
7 Não deverá ser demasiadamente desrepeitoso, nem sujar sua boca com palavras torpes, mesmo entre ele e ela. Está dito na qabalá: "...Revela ao homem sua conversa (proferida em secreto)..." - Am 4:13 - Disseram os Sábios: "Até mesmo uma conversação leve entre o homem e sua mulher - sobre ela virá a dar conta em juízo!"
8 Não estarão ambos embriagados, nem ociosos, nem nervosos; nem sequer um dos dois. E, não esteja ela adormecida. Nem tampouco a force, se ela não quer - senão seja por boa vontade de ambos, e em sua alegria. Deve conversar com ela um pouco [antes], e brincar um pouco, para que se tranquilize ele. Faça-se tudo com pudor, e não audaciosamente, e termine rápido.
9 Todo o que procede assim - não somente santifica sua própria alma, aperfeiçoando seu modo de ser, senão também seus filhos serão bonitos e avergonhados, prontos para ser sábios e ĥassidim. Quanto aos que agem segundo a forma de agir geral - seus filhos serão [comuns,] como os dos demais.
10 Grande é a modéstia costumeira entre os sábios: não permitem-se a si mesmos chegar ao vexame, nem descobrem sua cabeça ou seu corpo. Mesmo ao entrar ao recinto designado para suas necessidades fisiológicas, são modestos - não despem-se até sentar-se, e não limpam-se usando a mão direita. Buscam distanciar-se de toda pessoa, entrando nos recintos mais interiores da caverna, onde faz suas necessidades. Caso faça atrás do muro, busca distanciar-se o necessário, evitando que alguém ouça qualquer ruído (lit. fig. = "espirro") que possa emitir. Caso facça-o no vale, distancia-se para que não veja alguém seus desordem. Não conversa ao fazê-lo, mesmo por grande necessidade. Do mesmo modo como faz de dia com sua modéstia no recinto, assim também à noite. E, deve acostumar-se sempre toda pessoa a fazer suas necessidades pelo amanhecer e pelo anoitecer, para que não necessite distanciar-se.
11 O sábio não deve gritar ou berrar em suas conversações, como um animal. Tampouco fale demasiadamente alto, senão seja seu falar agradável para com todas as pessoas. E, ao falar agradavelmente - tenha cuidado para não distanciar-se, que não estejam suas palavras assemelhadas às dos orgulhosos. Antecipa a saudação a todas as pessoas, para que seja sempre agradável às pessoas, deixando-as satisfeitas consigo. Procura ver sempre as pessoas por suas boas qualidades, nunca buscando julgá-las por seus defeitos, sempre elogiando, jamais, seja em que caso, criticando algum feitio dos demais. Ama a paz, e persegue a paz.
12 Caso haja visto um local onde suas palavras servem de ajuda, fala; caso não, cala-se. Como assim? - [Por exemplo,] não tente apaziguar as pessoas durante seu momento de ira, nem pergunte sobre seus juramentos na mesma hora na qual jurou, até que se acalme e descanse. Tampouco console-o quando o morto está diante dele, pois encontra-se quebrantado demasiadamente até o enterro. Assim, todas as demais situações semelhantes a estas. Não compareça perante seu conhecido no momento em que este ache-se em mau proceder,(Cap. 6, 8...) senão faça como se não houvesse percebido sua presença.
13 Não mude sua palavra, nem aumente nem diminua, a não ser em palavras de paz, ou semelhantes. Regra geral: não se fala a não ser sobre fazer o bem, sobre sabedoria ou semelhantes. E, não converse com nenhuma mulher em lugar público, mesmo com sua esposa, sua irmã ou sua filha.
14 Não ande o sábio com o corpo erguido e com o pescoço levantado, conforme está escrito: "...andaram de pescoço erguido, revirando os olhos..." - Is 3:16 - , tampouco com um calcanhar atrás do outro, suavemente, como as mulheres e os [nobres] orgulhosos, conforme está escrito: "...andando a passos exatos, fazendo soar os ornamentos de seus pés." - Is 3:16.
15 Não corra nos locais públicos, agindo como um possesso de loucura. Tampouco com o corpo agachado, como os corcundas. [A forma correta, é andar] olhando para o chão, como quando encontra-se na oração, andando normalmente, como uma pessoa ocupada com seus negócios.
16 Também no andar da pessoa se reconhece se sábio é e virtuoso, ou pascácio e alienado, e assim disse Salomão por sua sabedoria: "Também ao andar pelo caminho o estulto, falta-lhe o coração, e diz a todos [seu modo de caminhar que] é um estulto!" - Ec 10:3.
17 A indumenta do sábio deve ser bonita e limpa, sendo proibido que se encontre em sua roupa mancha qualquer, ou pinta de óleo, ou algo parecido. Não vista-se com roupas de reis, como roupagens [enfeitadas] com ouro e púrpura, que atraem os olhares de todos; tampouco com roupas pobres, que causem desdém aos que as vestem - senão indumentas medianas e bonitas.
18 Não esteja sua pele transparecendo sob a roupa, como ocorre com as vestes de linho, as mais leves delas, como as fabricadas no Egito. Tampouco sejam roupagens longas, cujas pontas se arrastam pelo chão, como as roupas dos [nobres] orgulhosos, senão [simplesmente] até os calcanhares, estando as mangas do vestuário alcançando a ponta dos dedos. Não abaixe sua roupagem superior, por assemelhar-se aos orgulhosos [da nobreza], a não ser no sábado, caso não tenha outra roupa para trocar. Não calce sapatos remendados, como roupa remendada - uma remenda sobre a outra - durante o verão [e estações similares]. Mas no inverno, é-lhe permitido, caso seja pobre.
19 Não saia perfumado à rua [ou à praça]. Porém, se untou-se com perfume para desfazer-se da asquerosidade, é permitido. Similarmente, não saia sozinho à noite, a não ser no caso de que tenha hora marcada para estudo, e tudo isso - para evitar a suspeita.
20 Um sábio - economiza seus bens com justiça, comendo e bebendo e alimentando aos de sua casa de acordo com suas posses e seu êxito [em seus negócios], sem obrigar-se a si mesmo exageradamente.
21 Ordenaram os Sábios acerca do bom proceder que não coma-se carne a não ser pelo apetite, conforme o escrito: "Quando desejar tua alma o comer carne..." - Dt 12:20. É suficiente para o homem sadio que coma carne uma vez a cada semana, na véspera de sábado. Se é rico, entretanto, que possa comer carne todos os dias, que coma.
22 Ordenaram os Sábios: "Sempre coma o homem menos do que pode por seu dinheiro, vista-se conforme o que pode, e honre a sua esposa e filhos mais do que pode!"
23 O proceder das pessoas de consciência - buscam para si uma profissão que seja fonte pecuniária, antes; após isto, adquire para si uma casa para habitação, e [só depois] busca tomar para si uma mulher [por matrimônio], conforme está escrito: "Quem é o homem que plantou uma videira, e não desfrutara dela...construiu uma casa nova...tomou para si uma mulher..." - Dt 20:5,7.
24 Quanto aos pascácios - principiam [assim]: primeiro, tomam para si uma mulher, depois, se conseguir, adquire uma casa, e semente após, quando já estiver no fim de seus dias - buscará uma profissão, ou viverá da esmola. Assim está escrito nas maldições: "mulher tomarás..., casa construirás,...videira plantarás" - Dt 28:30. Quer dizer: "Serão teus feitos ao contrário [da ordem correta, propositalmente], para que não tenhas sucesso em teus caminhos. Quanto à bênção, está escrito: "E, foi David por todos seus caminhos, [agindo] prudentemente, e Deus [estava] com ele!" - 1 Sm 18:14.
25 É proibido desapropriar ou designar para santificação todos seus bens, ocupando [por isto] aos demais. Tampouco pode vender a seu campo e comprar uma casa [com o dinheiro do campo], ou vender uma casa e comprar móveis ou empregar o dinheiro em negócios. Mas, pode vender os móveis para comprar uma casa [com o dinheiro proveniente disto], ou campo. Regra geral: deve ter por meta o êxito de seus bens, não emblezar-se por um pequeno espaço de tempo, ou ter um pouco de bem-estar, perdendo muito para tanto.
26 As negociações dos sábios devem ser efetuadas com verdade e com fé: fala não sobre o que dissera "não", e "sim" sobre o que já afirmara, [confirmando], colocando para si mesmo a exatidão das contas, dando e desfazendo-se para os demais do que é seu, quando deles compra, sem ser duro para com eles como é consigo mesmo. E, paga sempre imediatamente ao comprar. Jamais se põe como fiador ou empreiter, e não venha a depender de concessões.
27 Obriga-se a si mesmo [colocando-se como devedor,] em coisas nas quais a própria Torá não obriga, no que concerne aos negócios, para que possa manter sua palavra, sem jamais cambiá-la. Se outros se fizeram devedores para consigo, estando consigo a razão, deverá ser paciente com eles, e mesmo perdoar-lhes sua dívida. Empresta, e tem piedade. Jamais entra no setor da profissão de outro, evitando causar angústia a quem quer que seja durante toda sua vida.
28 Regra geral: Seja dos perseguidos, não dos perseguidores; dos insultados, nunca dos que insultam. Todo o que agir de acordo com esses atos, e semelhantes a esses, sobre ele diz o escrito: "Meu servo és tu, ó Israel, no qual me glorifico!" - Is 49:3.
Capítulo 6
1 É natural ser o homem seguidor dos amigos e próximos no que concerne à sua personalidade e a seus atos, agindo conforme o comum às pessoas de sua pátria. Portanto, faz-se necessário que busque aproximar-se dos justos e sentar-se com os sábios sempre, para que possa aprender de suas ações, distanciando-se dos ímpios que andam nas trevas, evitando o aprender seus atos. [Isto] é o que diz Salomão: "O que anda com os sábios, sábio se tornará, quanto ao pastor de ímpios, mais iníquo se fará!" - Pv 13:20. E, diz ainda: "Feliz o homem..." - Sl 1:1.
2 Assim, caso estiver num país cujos costumes são maus, cujas pessoas não andam por um caminho reto, busque um lugar onde as pessoas sejam justas, acostumadas no caminho dos bons. Caso todos os países que conhece e sobre os quais já ouvira forem todos de mau proceder, como nesta nossa época, ou que não possa ir para um país onde os costumes sejam bons, por razão das unidades militares ou por motivo de enfermidade, habite só, conforme está escrito: "Viva só, e cale-se..." - Lm 3:28. Se forem tão iníquos e pecadores que nem sequer deixam-no estar no país a não ser que esteja engajado com eles agindo conforme seus costumes iníquos, vá para as cavernas e espinheiros, ou para o deserto, mas não siga o caminho dos ímpios, como o escrito: "Quem me dera no deserto..." - Jr 9:1.
3 É preceito positivo ligar-se aos sábios para aprender de suas ações, conforme está escrito: "A Ele vos ligareis!" - Dt 10:20 - e, acaso pode alguém ligar-se a Deus?! Senão, assim disseram os Sábios explanando este mandamento: "Liga-te aos sábios e a seus discípulos!" Portanto, é necessário que o homem se esforce por tomar para si por esposa a filha de um sábio, e de dar sua filha por esposa para um sábio, comer e beber em companhia dos sábios, negociar com os sábios, aproximando-se a eles por todos os meios possíveis, como está escrito: "Para unir-se a Ele..." - Dt 11:22; 30:20; Js 22:5. Também assim ordenaram os Sábios, dizendo: "Apeguem-se à poeira de seus pés, bebei sedentos suas palavras!"
4 Mandamento é para toda pessoa amar a cada um dos filhos de Israel como ama a si próprio, como está escrito: "Amarás a teu próximo como amas a ti mesmo!" - Lv 19:18. Por isso é preciso que sempre elogie aos outros e tenha cuidado com o dinheiro dos demais, assim como faz consigo mesmo, tendo zelo pelo próprio dinheiro e buscando ser honrado pelos demais. Aquele que se engrandece através do vexame dos outros, não tem herança no mundo vindouro.
5 O amor ao converso, que veio [a nós] e entrara embaixo das asas da Presença Divina, é [por si ] dois mandamentos positivos: primeiro, por ser ele membro da congregação dos que são próximos [uns aos outros]; segundo, por ser converso, havendo a Torá ordenado: "Amarás ao converso!..." - Dt 10:19. Ordenara [Deus] sobre o amor ao converso da mesma forma como ordenara sobre o amor a Seu Nome, como está escrito: "Amarás a Adonai, teu Deus!" - Dt 6:5; 11:1. O Santo, Bendito é Ele, ama Ele mesmo aos conversos, como está escrito: "Que ama o converso..." - Dt 10:18.
6 Todo o que odeia a um dos filhos de Israel em seu coração transgride um preceito negativo, como está escrito: "Não odiarás a teu irmão em teu coração..." - Lv 19:17. Não se castiga por açoites por esta transgressão, por ser uma proibição na qual não há ação física, e a Torá não admoestara a não ser sobre ódio no coração, mas quanto ao que golpeia a alguém ou lhe dirige impropérios, apesar de não ser-lhe permitido fazê-lo, não transgride o preceito de "não odiar no coração".
7 Ao pecar uma pessoa contra outra, não guarde rancor e cale-se, como estrá escrito acerca dos iníquos: "[Já antes] não falava Avchalom a Amnon nem bem nem mal, por odiar Avchalom a Amnon!" - 2 Sm 13:22, senão mandamento é que faça-o saber e dizer-lhe: "Por que me fizeste assim e assim, e por que erraste em relação a mim naquilo?" - segundo o que está escrito: "Admoestarás a teu próximo sem que leves por ele algum erro!" - Lv 19:17. E, caso arrependera-se e pedira perdão, é preciso perdoá-lo; e, não seja o perdoador cruel, conforme escrito: "Rezou Abraham a Deus!..." - Gn 20:17.
8 O que vê seu próximo fazendo o errado, ou andando por um mau caminho - é ordenado [pela Torá] a fazer com que se volte para o bem, fazendo-o dar-se conta de seu erro [que prejudica] a si mesmo , por ser mau proceder, conforme está escrito: "Admoestarás a teu próximo!..." - Lv 19:17.
9 Aquele que repreende - seja em coisas que são entre o repreendido e si mesmo, ou em coisas que estão entre ele e Deus, deve falar-lhe antes sozinhos os dois, falando-lhe numa linguagem branda e terna, fazendo-o entender que não lhe diz aquilo a não ser por seu bem, para trazê-lo para o mundo vindouro. Se aceitar, bem; se não, deve fazê-lo pela segunda e terceira vez, e assim sempre deve admoestar, até que dê-lhe golpes o que encontra-se no erro, dizendo que não está disposto a escutá-lo. Todo o que tem em seu poder o admoestar e não o faz, é porquê está ele mesmo entregue às mesmas transgressões sobre as quais é-lhe possível admoestar.
10 Ao repreender - não faça-o duramente, levando-o ao vexame, pelo que está escrito: "Não levarás sobre ele o pecado!" - Lv 19:17. Disseran os Sábios: "Podes tu admoestá-lo - fazendo com que se mude sua feição? - Aprende a dizer: "Náo levarás sobre ele o pecado! - De aqui vem a proibição de causar vergonha a outro judeu, principalmente publicamente!"
11 Apesar de que o que causa vergonha a seu próximo não é castigado com látegos, trata-se de uma grave transgressão. Assim disseram os sábios: "Todo o que envergonha a alguém em público, não tem herança no mundo vindouro!" Portanto, é necessário que tenha-se muito cuidado com isto, e não cause vergonha a ninguém publicamente, seja a uma pessoa importante ou não, e jamais chame alguém por um nome do qual se envergonhe, nem fale diante dele sobre um fato o qual lhe causa vexame.
12 A que caso (refere-se o dito acima?) - No que concerne a uma pessoa em relação a outra. Todavia, em coisas que estão entre o homem e Deus, se não deixou a transgressão ocultamente, deve-se envergonhá-lo em público e propagar seus pecados, insultá-lo e desfazer-se dele, bem como amaldiçoá-lo diante de todos, até que volte-se para o bem, segundo fizeram todos os profetas de Israel.
13 Aquele que pecou contra alguém, e não quiz este admoestá-lo de nehuma forma, por ser este demasiadamente simplório, ou mendaz, perdoando-o em seu coração, sem guardar no coraçã e sem odiá-lo - este é um ĥassid. A Torá não se fez severamente senão sobre o caso de guardia de rancor.
14 Deve-se ter muito cuidado com os órfãos e com as viúvas - por serem sofridos e sentirem-se permanentemente humilhados, mesmo quando são ricos. Mesmo a viúva de um rei, ou seus órfãos - somos advertidos sobre eles, como está escrito: "A toda viúva e a todo órfão não deixeis sofrer!" - Ex 22:21.
15 Como deve-se portar com eles? - Não se fala com eles senão brandamente, e não se dirige a eles senão honrosamente. Não causar-lhes-á sofrimento por trabalho, nem tampouco por palavras, tendo cuidado com seus bens materiais mais do que com seu próprio.
16 Todo o que os provoca ou causa-lhes desabono, magoando-os ou dominando-os, ou causando-lhes prejuízo financeiro, transgride um preceito negativo. Quanto mais quem golpeá-los fisicamente, ou injuriá-los. Esta transgressão, apesar de o transgressor não ser açoitado, o castigo já encontra-se previsto na Torá: "Acender-se-á minha ira, e matar-vos-ei pela espada..." - Ex 22:23.
17 Uma aliança fora pactuada com eles por Aquele que disse e se fez o universo, que toda vez que clamem pela injustiça, são ouvidos, como está escrito: "Pois se clamarem a mim, ouvirei certamente seu clamor!" - Ex 22:22.
18 Em que caso? - em que haja feito com que sofram para seu próprio proveito. Mas, caso haja procedido assim o instrutor para ensiná-los Torá ou uma profissão, ou para que voltem-se para o caminho reto, é permitido. Mesmo assim, não seja como com as demais pessoas, senão haja distinção, agindo suavemente e muito piedosamente, bem como com honra, pois "é Deus quem luta seu prélio" - Pv 22:23 - seja o órfão de pai, ou órfão de mãe. Até quando devem ser considerados tais para tanto? Até quando não precisem de alguém no qual se apoiem, seja para ensino ou para responsabilizar-se por eles, podendo eles fazer tudo para suas necessidades como todos os demais adultos.
Capítulo 7
1 Todo o que anda verificando o que fazem os demais, transgride um mandamento negativo, conforme está escrito: "Não sejas bisbilhoteiro entre teu povo..." - Lv 19:16. E, apesar de não haver pena de látegos para esta transgressão, trata-se de um grave pecado, que causa a morte de muitíssimas pessoas de Israel, pelo que fora escrito na Torá juntamente com este preceito o seguinte: "...não estarás indiferente contra o sangue de teu próximo...". Aprenda o que aconteceu com Doeg, o idumeu.
2 Qual é o bisbilhoteiro [por excelência]? Aquele que vai a um, busca escutar suas palavras, vai a outro, transmitindo o que ouviu, dizendo: "Isso e isto disse fulano, e aquilo outro ouvi sobre ciclano..." - apesar de estar dizendo a verdade, está destruindo ao mundo.
3 Há outra transgressão grave, que faz parte desta proibição da Torá, que é chamada lachon ha-ra' - é o que fala mal de outra pessoa, mesmo sendo verdade. Quanto ao que fala o que não é verdadeiro sobre outros, é chamado motzi chem ra'. O que conta lachon ha-ra', todavia, é quele que vive dizendo: "Assim fazia fulano!", "Assim eram os pais de ciclano!", "Dessa forma ouvi dizer sobre ele!", sempre falando coisas desonrosas. Sobre a pessoa que assim age, está escrito: "Decepe Deus todos os lábios de lisonjas, línguas que falam de grandosidades!" - Sl 12:4.
4 Disseram os Sábios: por três transgressões paga a pessoa neste mundo, ficando sem seu quinhão no mundo vindouro: 1) idolatria; 2) relações sexuais ilícitas; 3) derramamento de sangue. Quanto ao falar mal dos demais, é esta última equivalente a todas as outras em conjunto. Disseram ainda os Sábios: "Todo o que relata lachon ha-ra' é como se houvesse descrido de um dos princípios da Torá, conforme está escrito: "Que disseram: "Nossa língua fortaleçamos, pois nossos são nossos lábios: quem nos domina?" " - Sl 12:5. Mais ainda disseram os Sábios: "Três são os que a má língua mata: quem relata, quem escuta e a pessoa sobre quem foi proferida! Quando ao que ouve, mais do que o que relata.".
5 Há ainda certas coisas que são poeira de má língua. Como, por exemplo? - "Quem diria que fulano [mudaria sua forma de agir, e] viria a ser como agora é!", ou, simplesmente: "Calem-se acerca de fulano, não quero [nem sequer] revelar o que aconteceu nem o que se deu!" - e, assim por diante, nesta forma de dizer. [Igualmente,] todo o que elogia a alguém diante daqueles que o odeiam, é [também este caso] poeira de má língua, por fazer com que eles venham a falar mal dele. Acerca disto falou Salomão: "Aquele que abençoa a seu amigo em voz alta cedo, ao amanhecer, por maldição lhe será!" - Pv 27:14. - Pois através da [busca de] seu bem, chega a seu mal.
6 Também o que fala mal de outro por brincadeira ou por simples desrespeito, quer dizer - sem fazê-lo por ódio, é o que disse Salomão: "Como o louco que mira chispas, flechas e morte - ...dizendo: "acaso não estou somente brincando?!" - Pv 26:18,19. Assim também quem fal mal de outros fraudulamente, [iludindo aos que o ouvem], afirmando ingenuamente, como se não soubesse que tal ato é má língua. Porém, ao reprenderem-no, diz que desconhecia o fato de serem estes os feitos de fulano, ou não sabia ser isto lachon ha-ra'.
7 Tanto o que conta coisas más diante da pessoa de quem se trata, como quem fala coisas que, se forem ouvidas de uma pessoa após outra poderão causar prejuízo à pessoa de quem se fala - física ou economicamente - e, mesmo que somente cause-lhe tristeza ou medo, é lachon ha-ra'. Se forem ditas tais coisas diante de três pessoas, já foram ouvidas as cousas e tornadas conhecidas do público, sendo que caso um dos três revelar o assunto em outra ocasião, não é isto lachon ha-ra', se é que não houve intenção de aumentar o conhecimento geral das pessoas sobre o caso, ou revelar mais sobre o mesmo.
8 São todos estes - os faladores de má língua - em cuja vizinhança é proibido morar, quando mais se sentar em sua companhia, e escutar suas palavras. Não fora selado o juízo sobre nossos antepassados no deserto senão pela má língua, unicamente.
9 O que se vinga de seu próximo transgride um mandamento negativo, que está escrito: "Não vingareis..." - Lv 19:18. Apesar de que não incorre em pena de açoites por isto, trata-se de uma das piores personalidades [o ser vingativo]. Ao contrário, é consentâneo que seja toda pessoa indiferente a todas as cousas [relacionadas à ofensa] - que são para os entendidos como cousas vãs e insensatez, sobre as quais não há motivo de vingança.
10 Como é a vingança, por exemplo? - Disse seu amigo: "Empresta-me teu machado" - ao que respondeu: "Não te emprestarei". No dia seguinte, precisou este do qual se pediu emprestado, ao que retrucou o primeiro: "Não te empresto, como não me emprestaste!" - Este é vingativo. Ao contrário, quando vier pedir, deve dar de pleno coração, sem revidar-lhe seu proceder, assim sendo em todas estas cousas. Assim disse David em concernência a suas virtudes: "Se paguei com mal ao que buscou a paz comigo..." - Sl 7:5.
11 Assim também todo o que quarda no coração algo contra qualquer um dos filhos de Israel, transgride um preceito negativo, pelo que está escrito: "Não guardareis rancor contra os filhos de teu povo..." - Lv 19:18. Como assim? - [Por exemplo,] Rúbem disse a Simeão: "Aluga-me este cômodo!" ou "Aluga-me este boi!" - e, Simeão não quiz alugar. Após quantos dias, necessitou Simeão pedir de Rúbem algo emprestado, ou por aluguel, ao que disse-lhe Rúbem: "Ei-lo, pois te empresto, pois não sou como tu. Tampouco pagar-te-ei com a mesma moeda!" Qualquer que haja assim, transgride o preceito "Não guardareis rancor" [ - que proíbe guardar mágoa no coração].
12 Pelo contrário, deve apagar totalmente o ocorrido de seu coração, sem nada guardar, pois todo o tempo que guardar o caso [em seu coração e] em sua memória, poderá chegar [mesmo sem perceber] à vingança. Portanto, a Torá se fez severa com a questão da vingança, até que seja apagada totalmente do coração sem sequer lembrar o fato, sendo esta a forma correta de agir que possibilita a existência da vivência do ser humano na Terra, bem como as negociações entre os mesmos.